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BRASIL

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projetos voltados aos megaeventos e por comprometimentos estruturais,<br />

agravou tal quadro.<br />

Diferentes pesquisas de opinião realizadas durante o auge das manifestações<br />

corroboram as hipóteses aqui levantadas. A principal delas,<br />

realizada pelo IBOPE em oito metrópoles no dia 20 de junho de 2013 17 ,<br />

identificou, por exemplo, que as principais motivações dos manifestantes se<br />

concentravam em insatisfações quanto ao sistema político (65%), condições<br />

do transporte público (53, 7%) e gastos com a Copa do Mundo (30,9%), indicando<br />

a relevância de aspectos diretamente relacionados à questão urbana<br />

no contexto dos protestos (MARICATO, 2013).<br />

Além disso, registrou-se a heterogeneidade social do público que decidiu<br />

ir às ruas naquele mês, confirmando o grande alcance do fenômeno<br />

nas grandes metrópoles. 45% dos entrevistados possuíam rendimentos familiares<br />

de até 5 salários mínimos, 26% entre 5 e 10 salários mínimos e 23 %<br />

acima de 10 salários mínimos. Isto teve implicações nas orientações ideológicas<br />

declaradas, com grande tendência à concentração de manifestantes<br />

no centro do espectro político (SINGER, 2014)<br />

Outras características mais específicas puderam ser delineadas. 77%<br />

dos entrevistados afirmaram ter utilizado a rede social Facebook como ferramenta<br />

de mobilização, reforçando a importância da internet como canal<br />

privilegiado de organização e comunicação. Como era de se esperar, este<br />

novo meio é especialmente apropriado pelas novas gerações, já que 63% dos<br />

manifestantes tinham menos de 30 anos de idade e apenas 19% estavam acima<br />

dos 39 anos. Outra demonstração do ineditismo do fenômeno foi o fato<br />

de 46% dos entrevistados nunca ter participado de um protesto de rua antes.<br />

Conclusões<br />

Os dados analisados neste artigo permitem afirmar, primeiramente, que as<br />

ações realizadas pelos poderes institucionalizados nacional e localmente<br />

em termos de políticas públicas foram fundamentais para a formação da<br />

conjuntura de desgaste hegemônico que originou as jornadas de junho de<br />

2013. As opções feitas pelo Estado em termos de política econômica, social e<br />

urbana nas últimas décadas tiveram reflexos decisivos na vida cotidiana das<br />

metrópoles brasileiras. Os maciços incentivos ao crescimento econômico<br />

baseado na inclusão social restrita ao consumo ocasionaram atritos entre<br />

ganhos graduais de renda monetária destinados às camadas mais pobres<br />

e abruptas perdas de qualidade de vida para os diferentes estratos populacionais<br />

metropolitanos, especialmente representada pelo agravamento<br />

17 http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/veja-integra-da-pesquisa-do-ibope-sobre-<br />

-os-manifestantes.html<br />

Não Foi Só Por 20 Centavos: a “copa das manifestações” e as transformações socioeconômicas 215

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