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BRASIL

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como uma “janela de oportunidades” para a solução de diversos problemas<br />

nas cidades-sede, para atender aos interesses de alguns setores econômicos<br />

e consolidar referenciais imagéticos das cidades a serem expostos como<br />

mercadorias na vitrine do capitalismo global. Isto acaba fortalecendo diretamente<br />

um urbanismo neoliberal (THEODORE et al., 2009), ao mesmo<br />

tempo em que nenhuma ação diretamente relacionada à moradia para os<br />

setores de baixa renda foi desenvolvida.<br />

Segundo estudo feito pela Fundação João Pinheiro, Ministério das Cidades<br />

e Secretaria Nacional de Habitação, com base no Censo Demográfico<br />

de 2010, o déficit habitacional brasileiro é de 6,94 milhões de unidades,<br />

sendo 85% na área urbana. Cabe apontar que para este estudo o conceito<br />

de déficit está ligado diretamente às deficiências do estoque de moradias,<br />

englobando as moradias sem condições de serem habitadas em razão da<br />

precariedade das construções e que, por isso, devem ser repostas. Inclui ainda<br />

a necessidade de incremento do estoque de moradia, em função dos moradores<br />

de baixa renda com dificuldades de pagar aluguel e dos que vivem<br />

em casas e apartamentos alugados com grande densidade.<br />

Embora o déficit habitacional seja um tema importante, os recursos<br />

gastos no país, no contexto da Copa do Mundo, não foram capazes de produzir<br />

moradia adequada visando melhorar a qualidade habitacional no Brasil.<br />

Ao contrário, a realização da Copa do Mundo trouxe grande impacto no<br />

que se refere ao direito à moradia na maior parte das cidades que sediaram<br />

esse evento. Se, por um lado, as intervenções nas cidades-sede contribuíram<br />

para a elevação do preço da terra e da moradia para a compra e aluguel, por<br />

outro, em diversas ocasiões, ocasionaram remoções e despejos, muitas vezes<br />

ao largo das leis vigentes.<br />

A partir de hipóteses gerais dessa pesquisa, destacamos aqui, três<br />

questões fundamentais no contexto da Copa do Mundo que pareceram afetar<br />

a configuração socioespacial das cidades brasileiras no que diz respeito à<br />

questão habitacional: i) grande parte dos investimentos previstos na Matriz<br />

de Responsabilidades priorizaram áreas específicas da cidade; ii) processos<br />

de remoção e desapropriação provocados pelas obras de preparação das cidades<br />

para receber o evento esportivo e iii) valorização imobiliária dos espaços<br />

nas cidades de maiores investimentos.<br />

A partir desta reflexão, buscou-se neste artigo, apresentar um balanço<br />

dos principais impactos da Copa do Mundo à dinâmica urbana e ao direito<br />

à moradia nas cidades-sede brasileiras.<br />

Na primeira parte desse artigo, foram analisados os processos de ampliação<br />

da segregação urbana e da desigualdade socioespacial. Notou-se<br />

que em todas as 12 cidades-sede os investimentos para receber os jogos da<br />

Copa do Mundo priorizaram alguns espaços nas cidades, notadamente as<br />

áreas mais ricas e os centros urbanos. Verificou-se, também, que em algu-<br />

80 Metropolização e Megaeventos

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