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BRASIL

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era capitaneada por aqueles mais conservadores, foi a reprovação aos gastos<br />

vistos como desnecessários e a reivindicação por maior transparência<br />

destes dispêndios que involuntariamente uniu as diferentes pautas. Além<br />

disso, os contrastes entre os investimentos feitos realizados para os eventos<br />

e a precariedade dos serviços públicos urbanos eram mais evidentes para a<br />

maioria da população.<br />

De forma complementar, a ampla disseminação desta visão foi largamente<br />

viabilizada pela exploração do potencial da internet e de suas chamadas<br />

“redes sociais” como novas ferramentas virtuais e descentralizadas de<br />

mobilização. Pode-se citar como exemplo o fato de 10 entre os 12 Comitês<br />

Populares da Copa, a principal rede de articulação entre movimentos sociais<br />

constituídas nas cidades-sede, terem constantemente utilizado esta rede social<br />

para divulgar informações críticas e convocar protestos no ano de 2012,<br />

assim como a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa e o Comitê<br />

Nacional do Projeto Jogos Limpos, as duas principais mobilizações em<br />

esfera nacional 12 . Atualmente, estas páginas em conjunto totalizam mais<br />

de 50 mil seguidores.<br />

Se a mídia tradicional tendia a perder legitimidade como intermediária<br />

para o acesso à maior parte da população, fenômeno semelhante acontecia<br />

junto aos representantes da política institucionalizada. Já no final de<br />

2012 havia um importante indicativo disso, pois pela primeira vez desde a<br />

redemocratização o número de pessoas que se declaravam apartidárias superou<br />

aquele referente às pessoas que se identificavam com uma legenda<br />

política específica. Na verdade, houve um acelerado crescimento de “apartidários”,<br />

que passaram de 33% para 56% dos brasileiros apenas entre 2007<br />

e 2012 13 . Estava em curso um inédito processo de acentuado desgaste do<br />

papel dos partidos políticos como tradicional corrente de transmissão dos<br />

anseios políticos da população para as estruturas institucionais da democracia<br />

representativa liberal.<br />

O que estava acontecendo, portanto, era a corrosão do consenso ao<br />

redor da legitimidade da institucionalidade brasileira e do modelo de desenvolvimento<br />

proposto, em função do rápido processo de erosão da renda<br />

real e da qualidade de vida coletiva nas metrópoles e da abertura de canais<br />

mais espontâneos de comunicação intrapopulacional em larga escala. Ao<br />

contrário do processo mais gradual e seletivo de aumento do poder aquisitivo<br />

e inserção no mercado consumidor, este fenômeno acontecia num curto<br />

espaço de tempo, atingindo maiores contingentes populacionais. Neste<br />

12 Informações coletadas pelo autor com apoio da equipe do Observatório das Metrópoles<br />

através de questionário aplicado a representantes de 10 Comitês Populares da Copa entre os<br />

dias 1 e 3 de setembro de 2012.<br />

13 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,apartidarios-sao-maioria-no-pais-pela-<br />

-primeira-vez-desde-a-redemocratizacao,986376<br />

Não Foi Só Por 20 Centavos: a “copa das manifestações” e as transformações socioeconômicas 213

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