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BRASIL

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Conclusões<br />

Certamente, os processos identificados até aqui não seriam suficientes para<br />

que os sintomas de convulsão social se espalhassem de forma endêmica<br />

pelos grupos não organizados como ocorreu em junho de 2013, sobretudo<br />

tendo em vista o limitado alcance dos movimentos sociais e dos canais institucionais<br />

de participação perante a maioria da sociedade civil. É bastante<br />

provável que transformações socioeconômicas mais amplas tenham impactado<br />

mais decisivamente na formação da conjuntura que levou à “copa<br />

das manifestações”, conforme demonstra mais detalhadamente o próximo<br />

capítulo. Entretanto, também não seria prudente menosprezar a importância<br />

da sociedade civil organizada e de mudanças na condução de políticas<br />

públicas para o desenrolar de tais acontecimentos. Este artigo procurou demonstrar<br />

que antes da emergência de insatisfações mais generalizadas, já<br />

havia um crescente desencanto junto aos movimentos sociais urbanos em<br />

relação à atuação estatal, cuja intensidade aumenta substancialmente na<br />

atual década com a preparação para os megaeventos esportivos.<br />

Neste sentido, os dados aqui analisados permitem afirmar, primeiramente,<br />

que a resolução das tensões presentes nos últimos 25 anos entre as<br />

práticas calcadas no empreendedorismo urbano e aquelas norteadas pelo<br />

aprofundamento dos canais de participação social foram substancialmente<br />

influenciadas pela reiterada priorização da atração de megaeventos como<br />

instrumento de política urbana. Assim, prevaleceu a orientação empreendedorista,<br />

que teve seu caráter autoritário e mercadófilo expresso nos herméticos<br />

arranjos criados para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, bem como<br />

na cultura institucional arraigada na cúpula destas organizações. Como<br />

resquícios da tradição participativa restaram apenas mecanismos opacos,<br />

utilizados de forma seletiva e fragmentada por dirigentes dos novos arranjos<br />

institucionais.<br />

Isto teve impacto na atuação de grupos da sociedade civil organizada.<br />

Os movimentos de caráter mais contra-hegemônico foram afetados pela<br />

recente retração dos canais de participação e controle social desenvolvidos<br />

a partir da redemocratização e pelo aumento na violação de direitos humanos,<br />

ambos intensificados pelos projetos voltados aos megaeventos esportivos.<br />

Como resposta, houve um aprofundamento da tendência anterior de<br />

articulações em fóruns e redes, consubstanciada sobretudo na formação<br />

dos CPCMs nas 12 cidades-sede e na sua articulação nacional, a ANCOP. A<br />

principal contribuição destes movimentos foi a elaboração e disseminação<br />

orgânica de subjetividades críticas sobre a organização dos megaeventos<br />

esportivos no país através de um constante trabalho de base. Além disso, a<br />

inflexão percebida na atuação do CPCMO-RJ no início de 2013 é um importante<br />

indício da intensificação de dissenso naquele momento. Passou-se a<br />

priorizar os protestos de rua em detrimento de outras atividades, indo ao<br />

158 Metropolização e Megaeventos

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