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BRASIL

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Políticas públicas participativas<br />

e empreendedorismo urbano no Brasil<br />

A ampliação dos canais institucionais participativos<br />

A transição do período ditatorial para a nova república é um dos grandes<br />

marcos da história recente nacional. A aprovação de uma nova constituição<br />

federal brasileira em 1988 consolidou tal momento, uma vez que trouxe<br />

mudanças significativas para o arcabouço institucional brasileiro ao adotar<br />

princípios de exercício direto da cidadania e descentralização administrativa.<br />

Fruto de reivindicações de movimentos sociais que atuaram no contexto<br />

de redemocratização, tais modificações foram concretamente introduzidas<br />

por meio de instrumentos como plebiscitos, referendos e leis de iniciativa<br />

popular.<br />

Desde então, houve uma proliferação de experiências que progressivamente<br />

institucionalizaram as mediações entre Estado e sociedade civil<br />

nos três níveis de governo. Durante os anos de 1990, conselhos gestores<br />

se disseminaram como canais institucionais de participação da sociedade<br />

civil, sobretudo na esfera municipal. No final daquela década, havia quase<br />

27 mil conselhos no país, o que equivalia à média de 4,9 por município.<br />

Noventa e nove por cento dos municípios possuíam conselho de saúde e<br />

91% tinham conselho de educação e assistência social (IBGE, 2001). Outros<br />

setores foram amplamente cobertos, como políticas voltadas às crianças e<br />

adolescentes, segurança alimentar, meio ambiente, patrimônio histórico-<br />

-cultural e turismo. Isto se explica, sobretudo, pela exigência legal de criação<br />

de conselhos para a liberação de recursos setoriais (saúde, educação e assistência<br />

social) aos municípios, estabelecida em 1996 (GOHN, 2000).<br />

Apesar dos avanços, diversas análises identificaram pontos críticos<br />

ligados ao perfil dos conselheiros, indicando uma elitização da participação.<br />

(FUKS, PERISSIONOTO e SOUZA, 2004; SANTOS, AZEVEDO e RIBEIRO,<br />

2004). Além disso, a qualidade da deliberação interna foi alvo de críticas, já<br />

que muitas vezes a delimitação dos assuntos discutidos e o resultado de tais<br />

discussões funcionaram como legitimadores de posições defendidas por<br />

grupos já no poder (GOHN, 2000). Entretanto, tais problemas não anulam a<br />

constatação de uma pluralidade de novos espaços de discussão e deliberação<br />

bem mais abertos à participação do que no contexto ditatorial.<br />

Foi durante o mesmo período que as experiências de orçamento participativo<br />

floresceram no Brasil. Inicialmente implantado em 1989 na cidade<br />

de Porto Alegre, a iniciativa visava a compartilhar com a sociedade civil organizada<br />

a deliberação sobre investimentos feitos pelo governo municipal,<br />

através de mesclas entre conceitos de democracia representativa e participativa,<br />

visando a efeitos redistributivos intraurbanos (AVRITZER, 2003). Seu<br />

A “Copa das Manifestações” e os Processos de Governança Urbana no Brasil 133

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