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BRASIL

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dades brasileiras, com notável déficit de infraestrutura urbana (CARDOSO,<br />

ARAGÃO e SOUZA ARAÚJO, 2013). Isto significou a expansão dos limites de<br />

cidades que já apresentavam tendências ao espraiamento (ABRAMO, 2007).<br />

Ao mesmo tempo, os subsídios para as faixas mais altas de renda – entre<br />

3 e 10 salários mínimos – se concentraram na garantia do financiamento<br />

para a compra de imóveis ofertados no mercado. Assim, o governo federal<br />

contribuiu diretamente para a expansão do crédito imobiliário, estimulando<br />

a comercialização de imóveis voltados para parcelas da população já historicamente<br />

atendidas. Não seria inusitado, portanto, que o aquecimento deste<br />

mercado, entendido mais como instrumento de política econômica anticíclica<br />

do que como parte da política urbana (CARDOSO, ARAGÃO e SOUZA<br />

ARAÚJO, 2011), contribuísse de forma relevante para a elevação dos preços<br />

de venda e aluguel. Com isso, a política pública setorial estaria funcionando<br />

no sentido contrário à esperada melhoria nas condições habitacionais<br />

para as camadas com menor rendimento ao promover sua migração para<br />

áreas precárias e periféricas, tanto por meio da construção de novas casas<br />

subsidiadas nestas regiões quanto pela gentrificação causada pelo aumento<br />

induzido do aluguel.<br />

O conceito de renda real é fundamental para se pensar as transformações<br />

aqui elencadas. De acordo com David Harvey (1980), o aprofundamento<br />

da justiça social nas cidades perpassa a superação da restrição da<br />

renda ao âmbito monetário. Ao contrário, deve-se considerar também as<br />

desigualdades no acesso aos bens de uso coletivo – escolas, hospitais, parques,<br />

praças, teatros, cinemas, mercado de trabalho e de consumo, dentre<br />

outros – influenciadas pela posição geográfica dos diferentes atores sociais<br />

em relação à infraestrutura urbana. Tal acesso é fator determinante para a<br />

expansão ou retração do poder de ação social.<br />

Neste sentido, pode-se afirmar que esteve em curso na virada da década<br />

um processo de erosão da renda real da maioria dos habitantes das<br />

grandes cidades brasileiras, apesar de ganhos em termos de rendimentos<br />

monetários. Isso porque a expulsão dos mais pobres para a extrema periferia<br />

das grandes cidades, precarizadas pela insuficiência de serviços públicos<br />

básicos e distante das áreas onde se concentram as melhores oportunidades<br />

de emprego, combinada com o aumento do tempo de transporte para acessar<br />

regiões centrais tendem, no limite, a anular os aumentos salariais e a<br />

aquisição de benefícios sociais oriundos da formalização do trabalho.<br />

Duas características fundamentais deste processo formam a base<br />

para o alto grau de insatisfação gerado desde então. Primeiramente, houve<br />

um ritmo acelerado de degradação dos padrões de mobilidade urbana e de<br />

habitação em boa parte das grandes cidades brasileiras durante um curto<br />

período de tempo, isto é, entre meados dos anos 2000 e início da atual década.<br />

Além disso, a abrangência deste fenômeno não esteve restrita a algumas<br />

Não Foi Só Por 20 Centavos: a “copa das manifestações” e as transformações socioeconômicas 209

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