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BRASIL

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sociais de maior abrangência e, portanto, tendem a estar mais alinhados ao<br />

generalizado clamor por mudanças que originou as jornadas de junho.<br />

Fundamentalmente, movimentos contra-hegemônicos têm por objetivo<br />

a difusão de suas visões de mundo de maneira a torná-las hegemônicas<br />

na sociedade civil, isto é, incorporadas, em maior ou menor grau, pelos demais<br />

grupos. Associam-se, portanto, ao combate a visões de mundo dominantes<br />

de maneira a suplantá-las e substituí-las. Simpáticas a tendências<br />

marxistas, mas não limitadas a elas, buscam exercer maior influência sobre<br />

políticas públicas, geralmente pleiteando a participação direta no aparelho<br />

estatal. Liderança e organização hierárquica são entendidas como elementos<br />

necessários para a consecução de objetivos (GRABER, 2004; DAY, 2006;<br />

PURCELL, 2012).<br />

Por outro lado, movimentos não hegemônicos tendem a pleitear formas<br />

alternativas de vida e organização social. Influenciada pelo anarquismo<br />

e o autonomismo, esta vertente não tem como objetivo se tornar hegemônica,<br />

mas perpetuar uma constante resistência através de práticas anti-hierárquicas.<br />

Neste sentido, há uma negação à disputa pelo aparelho estatal e,<br />

consequentemente, pela dominação sobre outros grupos. A horizontalidade<br />

nas relações sociais é não só objetivo, como também um meio. A busca pela<br />

manutenção de diferentes visões de mundo e formas de organização se sobrepõe<br />

à tentativa de torná-las dominantes na sociedade (GRABER, 2004;<br />

DAY, 2006; PURCELL, 2012).).<br />

Tal classificação não pretende esgotar o universo estudado e não deve<br />

ser encarada de forma rígida. Tendências organizacionais da sociedade civil<br />

não estão isoladas e, portanto, há pontes e trocas entre elas. É possível<br />

identificar organizações que mesclam algumas características dos diferentes<br />

campos. O objetivo, portanto, é assinalar diferenciações gerais quanto às<br />

principais lógicas de atuação coletiva.<br />

Movimentos contra-hegemônicos<br />

A partir da década de 1970, há uma significativa redução da influência de<br />

sindicatos e partidos políticos sobre a vida associativa civil, que até então<br />

imprimiam lógicas de ação calcadas no corporativismo e no classismo<br />

(AVRITZER, 1997). Começavam a se disseminar nas metrópoles brasileiras<br />

práticas fundamentalmente regidas pela territorialidade, como demonstra<br />

a proliferação de associações comunitárias desde então, que buscavam fomentar<br />

solidariedades no âmbito local para garantir direitos sociais negados<br />

pelo regime ditatorial (BOSCHI, 1987). Há, ainda, a consolidação das classes<br />

médias urbanas e de suas formas peculiares de atuação, cujas práticas rompem<br />

com a ideia de ação coletiva restrita ao setor popular e passam a ser<br />

caracterizadas pela representação de interesses de profissionais liberais e de<br />

A “Copa das Manifestações” e os Processos de Governança Urbana no Brasil 145

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