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BRASIL

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que Olímpico, cujos moradores foram reassentados em um conjunto a 3 km<br />

da comunidade, e do Metrô-Mangueira, situado nas proximidades do estádio<br />

do Maracanã, cujos primeiros moradores removidos foram reassentados<br />

na Zona Oeste, a mais de 50 km da comunidade, e aqueles que conseguiram<br />

resistir, vivendo em meio aos escombros, foram reassentados a menos de 1<br />

km de distância.<br />

Paradoxalmente, a prefeitura negava a realização de remoções e afirmava<br />

que essas intervenções urbanas também estavam associadas a uma<br />

política habitacional, que asseguraria o direito à moradia digna para aqueles<br />

cujas habitações eram precárias e/ou se encontravam em áreas de risco,<br />

ou seja, afirmava atuar na “preservação da vida”. Em contrapartida, os<br />

movimentos populares afirmavam que o problema era que os moradores<br />

ameaçados viviam em “áreas de rico e não de risco” (como o caso das comunidades<br />

Vila Autódromo e Santa Marta), e se, de fato, havia melhorias<br />

materiais para algumas famílias reassentadas, muitos reclamavam ter piorado<br />

significativamente suas condições de vida, pois uns perderam empregos,<br />

outros passaram a levar horas para chegar ao local de trabalho, diversas<br />

crianças perderam o ano na escola, entre outros problemas. Também cabe<br />

acrescentar que diversos desses empreendimentos foram rapidamente controlados<br />

por grupos milicianos 9 , que estabeleceram regras de sociabilidade<br />

e cobraram taxas de segurança dos novos moradores.<br />

Os investimentos em segurança, realizados através do programa de<br />

Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) 10 , têm acarretado o aumento do valor<br />

do solo urbano nas comunidades ocupadas militarmente. Por conta disso,<br />

houve significativo aumento do preço dos aluguéis, da compra e venda<br />

de moradias e de serviços existentes nestes espaços. Todavia, o poder público<br />

não criou políticas que garantissem a permanência das famílias em suas<br />

casas, ao contrário, permitiu que o mercado imobiliário atuasse nessas favelas<br />

e regulasse o preço dos imóveis. Assim, parte das famílias foi obrigada a<br />

encontrar outro local de moradia onde o solo urbano seja menos valorizado.<br />

Em Recife, os movimentos populares estimam que mais de 2 mil famílias<br />

passaram por processos de remoção por conta das obras para a realização<br />

da Copa do Mundo. Entre essas obras, destacam-se a construção da<br />

Arena Pernambuco, no município de São Lourenço da Mata, e as obras de<br />

9 Os milicianos são grupos criminosos que formados em sua maior parte por pessoas ligadas<br />

ao Estado – fala-se de ex-policiais ou policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e<br />

ex-militares – que passaram a controlar o fornecimento de diversos tipos de serviços (transporte<br />

alternativo, distribuição de bujões de gás, distribuição clandestina de TV por assinatura<br />

etc.) em várias áreas da cidade do Rio de Janeiro. Fortemente armados, os milicianos também<br />

exigem dos moradores e comerciantes pagamentos por serviços de proteção e segurança.<br />

10 A escolha das favelas atendidas pelas UPP parece estar submetida à lógica dos megaeventos<br />

esportivos e do urbanismo neoliberal, pois a sua localização atende prioritariamente as<br />

áreas turísticas e de interesse do capital imobiliário: área central, Zona Sul e bairros do entorno<br />

do estádio do Maracanã.<br />

98 Metropolização e Megaeventos

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