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A cidade do meu tamanho<br />
Leonardo de Albuquerque Batista<br />
Universidade do Minho<br />
leonardoalbu100@gmail.com<br />
Resumo - As crianças necessitam de proteção e provisão, como também de autonomia e<br />
oportunidades para poder interagir com outras crianças e com os elementos que compõem os<br />
espaços públicos. Para resgatar a cidade e devolver-lhe o seu sentido coletivo, a participação<br />
das crianças, abertamente convocada, resulta num contributo valioso para o exercício da<br />
cidadania infantil. Elas são atores sociais determinantes com sua voz, poder e ação (Corsaro,<br />
1997). São pessoas plenas capazes de propor ideias a diferentes cenários e oferecer<br />
alternativas desafiantes à sociedade.<br />
O objetivo do presente estudo pretende promover a intervenção dos espaços públicos próximos<br />
às escolas com o propósito de reconquistar lugares propícios para a brincadeira e a convivência,<br />
convocando para este fim a comunidade escolar, artistas locais e autoridades municipais. A<br />
conquista destes espaços do brincar das crianças seria durante os horários dos recreios<br />
escolares, assim como em alguns momentos e espaços da vida quotidiana das crianças. Há que<br />
induzir à sociedade o dialogar e pensar sobre a importância e necessidade do brincar da infância<br />
na cidade (Tonucci, 1997).<br />
Como resultado do trabalho tem-se obtido olhares, vozes e propostas de 25 crianças da Escola<br />
Sé de Braga surgidas no marco de uma série de passeios exploratórios feitos pelas ruas de<br />
Braga. Os diálogos entre pares manifestados em entrevistas e quadros de observação revelaram<br />
desejos de poder brincar e explorar nas praças e largos próximos à escola durante o recreio.<br />
A metodologia utilizada nos encontros com as crianças foi marcada por processos participativos<br />
de diálogo e por descrições etnográficas dos seus comportamentos frente aos lugares<br />
percorridos.<br />
As crianças caracterizam-se por viver com plenitude o universo lúdico com criatividade e<br />
imaginação. Elas assumem, com agrado, compromissos e desafios que tomam em conta a sua<br />
participação especialmente quando os mesmos implicam a sua liberdade de ação e se sentemse<br />
confortáveis e seguras.<br />
É notório o conhecimento de que a infância tem sofrido fortes restrições na sua autonomia para<br />
brincar, jogar e usufruir da cidade sobretudo em espaços públicos constituídos pela presença de<br />
elementos naturais, árvores e recursos que lhes permita inventar e reinventar brincadeiras. A rua<br />
e o bairro que outrora representaram para muitas gerações um lugar de brincadeira, socialização<br />
e identidade, desaparecem progressivamente da cultura lúdica infantil e com ela, a oportunidade<br />
da criança relacionar-se com os seus contextos sociais, culturais e ambientais (Neto, 1997).<br />
Palavras-chave: Criança, cidade, cidadania infantil, brincar.<br />
Introdução<br />
As crianças do século XXI demandam dos adultos um compromisso mais amplo com a<br />
infância. A proteção e provisão são direitos prioritários principalmente nos dias de hoje, elas<br />
demandam autonomia e possibilidades para exercerem a sua cidadania, brincarem e interagirem<br />
com a cidade e com outras crianças. Nesse sentido, torna-se necessário repensar a cidade com um<br />
olhar e dinâmicas diferentes das que dominam atualmente a paisagem urbana. Ao invés do domínio<br />
do comércio de grandes superfícies e da mobilidade dos automóveis, os parâmetros de<br />
desenvolvimento e de ocupação das políticas municipais deveriam primar as crianças como garantia<br />
de todas as diversidades (Tonucci, 1997).<br />
É notório o conhecimento de que a infância tem sofrido fortes restrições no que se refere à<br />
sua autonomia para brincar, jogar e usufruir da cidade sobretudo em espaços públicos. A rua e o<br />
bairro que outrora representaram para muitas gerações um lugar de jogo e socialização, de<br />
identidade desaparecem, de maneira progressiva, da cultura lúdica infantil e com ela a oportunidade<br />
da criança relacionar-se com os seus contextos sociais, culturais e ambientais (Neto, 1997).<br />
As crianças caracterizam-se por viverem num universo particular. Quanto mais elas<br />
conseguirem desenvolver o seu característico modo de ser, sentirão e poderão desenvolver na<br />
plenitude as suas culturas de infância. “Dentro desse campo habitado e vivido pelas crianças é<br />
produzido pela sua interação recíproca um conjunto de conhecimentos, práticas e sentimentos que<br />
constituem formas muito particulares e peculiares de ler o mundo e agir intencionalmente sobre e<br />
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