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diferentes 35 . Cada equipe ia para uma região 36 da cidade com mapas e rotas 37 de abordagem<br />

pré-construídas, embora, muitas vezes, essas rotas sofriam alterações de acordo com os fluxos<br />

dos meninos. As entrevistas eram direcionadas por dois tipos de questionários 38 : um amplo (com<br />

60 questões) aplicado em 10% da população abordada e um reduzido (com 18 questões)<br />

utilizado na entrevista com toda a população encontrada. O primeiro objetivava fazer uma<br />

investigação mais aprofundada acerca das condições que levaram as crianças e adolescentes a<br />

viver em situação de rua; o segundo, traçava um perfil mais geral desses sujeitos.<br />

Entrevistavamos 09 sujeitos com o questionário reduzido e no 10.º utilizavamos o amplo (amostra<br />

dos 10% da população abordada). No total foram seis dias de pesquisa e 1517 crianças e<br />

adolescentes encontrados em várias situações de rua, nas cidades de Goiânia, Anápolis e<br />

Aparecida de Goiânia.<br />

A população de crianças e adolescentes em situação de rua é definida como aquela<br />

composta por pessoas com até dezoito anos incompletos que costumam dormir: a)<br />

nas ruas individualmente ou em grupo; b) nas ruas com a família (“famílias de rua”);<br />

c) em instituições que oferecem pernoite a este segmento; d) na residência de sua<br />

família, mas trabalham ou buscam o sustento nas ruas para ajudar a família ou para<br />

a própria sobrevivência. (Meta, 2010:3).<br />

Por “rua” entendem-se locais situados sob pontes, marquises e viadutos, a frente de<br />

prédios privados e públicos, em espaços públicos não utilizados à noite, em parques,<br />

praças, calçadas, praias, cascos de barcos, embarcações não utilizadas no período<br />

noturno, portos, estações de trem, rodoviárias, a margem de rodovias, em<br />

esconderijos abrigados (mocós), dentro de construções com áreas internas<br />

ocupáveis, galerias subterrâneas, becos, postos de gasolina, áreas próximas aos<br />

depósitos de lixo, à reciclagem de material, ao ferro velho, às feiras e pontos<br />

comerciais, depósitos e prédios fora de uso, casas e prédios abandonados e outros<br />

locais relativamente protegidos do frio e da exposição à violência. (Meta, 2010:3).<br />

A definição de criança e adolescentes em situação de rua é muito genérica, não dá conta das<br />

diversidades e especificidades desses sujeitos, que fazem da rua o seu espaço de sobrevivência.<br />

O princípio básico é desenvolver atividades na rua, embora possam dormir ou não na casa de<br />

familiares, em instituições ou na própria rua. Elas são, na sua grande maioria, pertencentes às<br />

famílias das camadas populares desempregadas ou subempregadas, com um histórico<br />

geracional de exclusão e violência, como inferimos em vários momentos das entrevistas<br />

realizadas.<br />

Observamos que as crianças mais inteligentes, desse contexto, são as que resistem e fazem<br />

das ruas espaço de sobrevivência não apenas material, mas sobretudo de liberdade, de luta<br />

contra as adversidades e as variadas formas de violência que elas sofrem. Estar à beira das<br />

rodovias, nas ruas, nos parques, nos semáfaros, etc. das grandes, das médias e, não raramente,<br />

das pequenas cidades, é uma situação de vulnerabilidade e risco, e elas sabem disso. No<br />

entanto, encontram ali algo que é caro à sua identidade humana: a possibilidade do exercício da<br />

liberdade, de poder escapar, em um momento ou noutro da opressão direta, imediata e<br />

constante. São sujeitos assujeitados, mas são também sujeitos de resistência (FOUCAULT,<br />

1995), independentes da proteção que a família e o Estado dizem-lhes querer dar. Encontramolas<br />

dormindo ao relento, roubando, drogando-se, sendo prostituídas, exploradas pelos adultos,<br />

vendendo pequenas mercadorias, mendigando, entre outras ações que desenvolvem para<br />

sobreviverem, a despeito do desejo que tem a sociedade de eliminá-las ou no mínimo de tornálas<br />

invisíveis.<br />

A invisibilidade pode ser compreendida como um mecanismo de negação daquilo que nos<br />

implica, da pertubação pela presença do estranho que insiste em permanecer entre nós (Galo,<br />

2002), e que se constitui como efeito dos mecanismos de exclusão, nos quais estamos<br />

implicados mas não queremos dar por visto, “não podemos” nos responsabilizar por suas<br />

monstruosidades em que todos nós, de algum modo, somos produtores. Assim, a criança de rua,<br />

suja, mal trapilha, faminta, mal cheirosa é transformada em invisível pela sociedade, pelos<br />

35<br />

Das 8h00 às 12h00, das 16h00 às 20h00 e das 21h00 às 3h00 da madrugada.<br />

36<br />

Adotou-se a regionalização dos Conselhos Tutelares em que divide a cidade de Goiânia em seis grandes<br />

(06) regiões cada uma delas composta por duas menores totalizando 11, como se segue: Região Sul;<br />

Região Central, Região Norte; Região Noroeste; Região Campinas;Região Macambira Cascavel; Região<br />

Mendanha; Região Vale do Meia Ponte; Região Oeste; Região Sudoeste;Região Leste;<br />

37<br />

As rotas possíveis de se encontrar crianças e adolescentes em situação de rua foram construídas em<br />

reuniões com os profissionais da Rede de Atendimento de Crianças e Adolescentes de Goiânia.<br />

38<br />

Os questionários foram elaborados pela coordenação nacional, por isso foi necessário uma longa<br />

formação dos pesquisadores e algumas adaptações.<br />

182

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