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Culturas Infantis: Quando o Brincar Urbano Ultrapassa as Fronteiras da Cidade<br />

Evandro Salvador Alves de Oliveira<br />

Centro Universitário de Mineiros – UNIFIMES (Brasil)<br />

evandro_edfisica@hotmail.com<br />

Laudinéa de Souza Rodrigues<br />

Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT (Brasil)<br />

laudineasouza@hotmail.com<br />

Raquel Gonçalves Salgado<br />

Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT (Brasil)<br />

ramidan@terra.com.br<br />

Resumo: Quando brinquedos urbanos – produzidos e comercializados na/pela cidade – se<br />

tornam parte do cotidiano de crianças pertencentes a grupos autóctones, o brincar típico das<br />

meninas e meninos da cidade extrapolam as fronteiras diluídas entre edifícios, condomínios<br />

e casas, chegando às aldeias sem pedir licença. Tal fenômeno agrega, então, novos<br />

elementos ao brincar das crianças indígenas e, consequentemente, às suas culturas infantis.<br />

Este trabalho se debruça sobre esse contexto e tem como objetivo principal apresentar e<br />

discutir as culturas infantis a partir de elementos que constituem o brincar de crianças<br />

urbanas e que, ultrapassando as fronteiras da cidade, passam a fazer parte também do<br />

brincar de meninas e meninos da etnia Gavião Ikólóéhj. Os cenários que enriquecem o<br />

trabalho e reflexões aqui presentes são advindos de dois contextos distintos: uma turma de<br />

crianças da Educação Infantil de uma instituição pública do município de Rondonópolis, Mato<br />

Grosso, Brasil, e as crianças indígenas que vivem na Aldeia Igarapé Lourdes, pertencente à<br />

Etnia Gavião, no município de Ji-paraná, Rondônia. Trata-se de uma proposta alicerçada nos<br />

pressupostos da abordagem qualitativa, cujos dados apresentados neste texto provêm da<br />

apropriação de instrumentos metodológicos tanto da pesquisa intervenção quanto da<br />

etnografia. Deste modo, além de oficinas com as crianças urbanas, para as duas pesquisas,<br />

foram realizadas observações das crianças em seus respectivos contextos, seguidas de<br />

densas descrições em caderno de campo. Entre os aportes teóricos utilizados estão Geertz<br />

(2011), Brougère (2002; 2010), Corsaro (2011) e Sarmento (2005). Com base nos dados das<br />

pesquisas, considera-se que a cultura da cidade fabrica objetos/brinquedos com o intuito de<br />

atingir as crianças urbanas – meninas e meninos da era digital e tecnológica – que, na<br />

apropriação dessas referências simbólicas, ressignificam e reelaboram suas formas de<br />

brincar, construindo novas linguagens, partilhando ideias e informações diversas. Televisão,<br />

smartphones, bonecas, notebooks, videogames, carrinhos e bolas de futebol são elementos<br />

que constituem a cultura midiática na contemporaneidade e que fazem parte das culturas<br />

infantis urbanas. Contudo, a partir do intenso contato com a sociedade não indígena e com<br />

a entrada das mídias na Aldeia, as crianças Gavião também se apropriam de muitos dos<br />

objetos/brinquedos urbanos, agregando novos elementos ao seu brincar.<br />

Palavras-chave: Culturas da infância. Brincar. Brinquedo. Crianças urbanas. Crianças<br />

indígenas.<br />

Introdução<br />

Quando o brincar e os brinquedos produzidos e comercializados na cidade se tornam parte do<br />

cotidiano de crianças indígenas, as brincadeiras tipicamente urbanas extrapolam suas fronteiras<br />

e chegam às aldeias sem pedir licença. A presença da tecnologia nesses cotidianos, sobretudo<br />

a televisão, agrega, então, novos elementos ao brincar das crianças indígenas e,<br />

consequentemente, às suas culturas infantis.<br />

Se, por um lado, a cidade, cada vez mais, deixa de possuir “muralhas” que impedem a expansão<br />

de suas culturas a partir de um fenômeno inaugurado pela indústria cultural no século passado,<br />

por outro, a Aldeia, em um contato cada vez mais intenso com a sociedade não indígena, tem<br />

vivenciado maiores possibilidades de conhecimento e apropriação das culturas que são<br />

produzidas na cidade.<br />

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