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O Tempo como contexto e pretexto da conquista de direitos pelas Crianças<br />
Sara Moreira<br />
Universidade de Aveiro<br />
saracanaveses@gmail.com<br />
Rosa Madeira<br />
Universidade de Aveiro<br />
rosalucia66@gmail.com<br />
Resumo - A ocupação do tempo das crianças pelos adultos, justificada por exigências<br />
inerentes ao desempenho do ofício de aluno, tornou-se mais visível com o aumento do<br />
número de horas de permanência na escola, para além do tempo letivo. O tempo liberto das<br />
tarefas escolares passou a ser ocupado por atividades organizadas segundo o modelo<br />
escolar, cujo conteúdo é mais conformado aos interesses didático-pedagógicos dos adultos<br />
do que pelos interesses lúdicos e de convivência familiar das crianças. Estas veem recair<br />
sobre si um conjunto de expectativas e responsabilidades de desempenho que as sujeitam a<br />
uma constante tutela, fiscalização e avaliação pelos adultos.<br />
Neste colóquio queremos revisitar um percurso de produção de conhecimento que foi<br />
construído com um pequeno grupo de crianças numa Escola Básica da Cidade do Porto, em<br />
dezoito encontros, onde tentamos compreender a falta de tempo livre como problema vivido<br />
no seu quotidiano de trabalho distribuído entre a escola e a família, onde pouco espaço é<br />
concedido à brincadeira com amigos, ao descanso, à conversa e lazer com amigos e família,<br />
na comunidade.<br />
Este projeto intitulado “O Tempo das Crianças …silêncios vividos e ruídos sentidos”,<br />
desenvolveu-se segundo os princípios da investigação-ação participativa, em que as crianças<br />
participaram ativamente na criação de dispositivos de escuta e registo da ocupação diária do<br />
seu tempo.<br />
Os dados gerados neste processo deu-nos a saber que o ritmo e a intensidade do trabalho<br />
das crianças são alcançados em detrimento da atividade lúdica em horário extra-escolar,<br />
onde as tarefas escolares ocupam também o tempo vivido no ATL, na espera do regresso<br />
dos pais e/ou em casa.<br />
Ao ver reduzida a sua liberdade de escolha e possibilidades de brincar com amigos, as<br />
crianças ocupam-se com jogos com suporte digital que lhe oferecem espaços de movimento<br />
e amigos virtuais num contexto onde a fronteira entre trabalho e de lazer tendem a esbaterse.<br />
Ao analisar e problematizar as formas de uso do seu tempo, as crianças puderam expressar<br />
o desejo de estar mais tempo com os amigos e em casa com a família. A tomada de<br />
consciência de que a sobreocupação que limitava o seu tempo de convivência e de<br />
brincadeira era um problema comum aos seus pais, conduziu este grupo de crianças a abrir<br />
a discussão do problema na comunidade educativa. Ao verem reconhecido assim o seu<br />
direito de dar opinião sobre um assunto que lhes dizia respeito, as crianças puderam<br />
experimentar concretamente a sua condição de atores sociais competentes interessados em<br />
participar na melhoria da vida da sua escola, família e comunidade. A virtualidade que<br />
reconhecemos a iniciativas tais como a Cidades Amigas das Crianças é a vivência de<br />
desafios reais de conquista do direito à liberdade de opinião e de associação pelas crianças.<br />
Palavras-chave: Infância, Tempo, Direitos das Crianças, Cidadania<br />
Enquadramento Teórico<br />
Podemos entender o termo “cidadão” como sinónimo de “citadino”, ou seja, como habitante<br />
da cidade mas também como sujeito a quem se reconhece o direito à vida, à liberdade, à<br />
propriedade, à igualdade perante a lei ou ainda como agente social que, para não se deixar<br />
oprimir ou subjugar, resiste e enfrenta o desafio de defender e participar para o desenvolvimento<br />
de sociedades mais igualitárias.<br />
Tornar-se Cidadã corresponde a assumir uma identidade social que corresponde a um estatuto<br />
jurídico ao qual está associada a responsabilidade de desenvolver sociedades mais<br />
democráticas e mais justas, onde o mútuo reconhecimento dos direitos de todos e de cada um<br />
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