livro_atas
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qualificações; subsidiodependência; tráfico de seres humanos (casamentos por conveniência);<br />
violência doméstica (freguesia do concelho com maior incidência), entre outros.<br />
Tal como o Lagarteiro, o bairro do Cerco do Porto situa-se no Vale de Campanhã, tendo sido<br />
construído entre 1961 e 1963 e ampliado em 1991, perfazendo hoje um total de 34 edifícios e 892<br />
habitações com tipologias entre T1 e T4 6 .<br />
Nunca é demais lembrar que o bairro do Cerco do Porto foi construído com vista a albergar famílias<br />
com baixo nível socioeconómico, oriundas dos pontos mais carenciados da cidade. Com situações<br />
de desemprego generalizado, estas famílias caracterizam-se pela ausência de expectativas,<br />
nomeadamente de projetos de vida. Esta combinação resulta, frequentemente, em comportamentos<br />
desviantes e situações de exclusão que se perpetuam nas gerações seguintes, num ciclo difícil de<br />
travar 7 .<br />
Os habitantes deste bairro são potenciais desempregados, ou seja, considerados não empregáveis<br />
por não possuírem hábitos de trabalho ou competências necessárias. Têm baixíssimas habilitações<br />
académicas, a formação profissional é quase inexistente e pouca experiência profissional que, a<br />
existir, é sobretudo indiferenciada. Desempregados de curta e longa duração, muitas famílias que<br />
habitam este território deparam-se com uma enorme dificuldade em encontrar uma colocação<br />
profissional, dando “sinais visíveis de desencorajamento e de desafeição pelo trabalho”,<br />
sobrevivendo ao dia-a-dia num registo de subsidiodependência 8 .<br />
Os contextos familiares são vulneráveis, sendo que a grande maioria dos pais revela fracas<br />
competências parentais – agravadas pela inexistência de modelos de identificação positivos – assim<br />
como pessoais e/ou sociais e relacionais. Estas famílias acabam por sofrer o estigma da exclusão<br />
a vários níveis. Habitualmente provêm de estratos sociais muito baixos, com percursos de vida em<br />
circuitos de marginalidade, com um total desinteresse pela escola, formação profissional ou<br />
emprego, sem hábitos de cumprir horários ou quaisquer outras regras, nomeadamente de conduta.<br />
Ou, quando existem, são muito ténues. Sem qualquer tipo de prática de participação e poder<br />
ocupam, muitas vezes, um lugar na sociedade frequentemente desvalorizado 9 .<br />
Metodologias<br />
Para o nosso estudo propusemo-nos dar voz a um grupo de crianças que vive e/ou se move no<br />
bairro do Lagarteiro e, mais tarde, também no Cerco do Porto, sendo este o ponto de partida para<br />
conhecer as representações que fazem daqueles locais, nomeadamente sobre o que necessita (ou<br />
não) de uma mudança.<br />
Quisemos conhecer as dinâmicas que poderiam ser desenvolvidas com e por crianças de modo a<br />
potenciar a sua transformação em agentes de mudança nos territórios de exclusão que habitam,<br />
tentando compreender as representações que fazem dos principais problemas existentes no bairro<br />
e as suas perspetivas de futuro. Partindo destes pressupostos, assumimos a preocupação em optar<br />
por uma metodologia que envolvesse as crianças como um todo, num registo igualitário de partilha<br />
de participação, poderes e saberes ao longo de todo o processo. O estudo não ambiciona ser<br />
representativo de um determinado grupo de crianças, mas tem a pretensão de vir a ser uma<br />
ferramenta de intervenção, tendo como ponto de partida a voz ativa das crianças… Todos os dados<br />
foram analisados seguindo uma conduta o mais imparcial possível, numa orientação exploratória<br />
sem confirmação de hipóteses (teoria fundamentada).<br />
Tendo em conta estes pressupostos, desde o primeiro momento procuramos envolver o mais<br />
possível as crianças na pesquisa, dando-lhes voz própria, contrariando a ideia de uma infância em<br />
“estádio passivo”, que nada tem a dizer ou que com nada pode contribuir (Alderson, 2000:423).<br />
Consideramos que “ouvir as vozes das crianças seria o melhor ponto de partida para um estudo<br />
social sobre as vidas das crianças (…)” (Komulainen, 2007:13).<br />
Procurámos desenvolver dinâmicas de investigação participativa, construídas com e para as<br />
crianças, com vista ao fornecimento de ferramentas que lhes permitissem analisar os seus contextos<br />
de vida, neste caso os territórios de exclusão que habitam e/ou frequentam, como ponto de partida<br />
para uma possível transformação (ou não) destes mundos.<br />
Durante o percurso investigativo as crianças tiveram total liberdade para se expressarem sobre o<br />
que lhes era solicitado mas, também, sobre quaisquer outras questões que considerassem<br />
pertinentes, dando-lhes espaço para a criação e aplicação de estratégias que as possibilitassem<br />
6<br />
Fonte: DomusSocial EM2016.<br />
7<br />
Fonte: Candidatura Cercar-te ao Programa Escolhas 6.ª Geração.<br />
8<br />
Fonte: CerPorto 2016.<br />
9<br />
Fonte: Candidatura Cercar-te ao Programa Escolhas 6.ª Geração.<br />
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