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A convenção dos direitos das crianças os concebe como sujeitos ativos de direito que devem ser<br />

escutados e tidos em conta ao expressarem livremente suas opiniões. As crianças podem e<br />

devem avaliar seu bem-estar subjetivo e serem convidadas a participar na elaboração de<br />

políticas, planos e programas voltados à melhoria de sua qualidade de vida, fixando a atenção<br />

também nos aspectos positivos a serem desenvolvidos. Cada âmbito do bem-estar ou satisfação<br />

com a vida (família, escola, amigos, uso do tempo, bairro, etc.) avaliada desde a perspectiva das<br />

próprias crianças e adolescentes, segundo aspectos que eles indiquem que são importantes em<br />

suas vidas, nos permite conhecer as novas culturas infantis sem ter que recorrer ao modelo<br />

adulto como referente único (Casas e Bello, 2012).<br />

A importância de se discutir sobre os níveis de satisfação e bem-estar por âmbitos da vida das<br />

crianças e adolescentes pesquisados, problematizando os resultados e ressaltando as<br />

diferenças encontradas, está em poder pensar intervenções que contribuam a aumentar a saúde<br />

e a qualidade de vida daqueles grupos de crianças que, por distintos fatores psicossociais,<br />

apresentam seu bem-estar e qualidade de vida, diminuídos.<br />

No que diz respeito à satisfação por âmbitos da vida é importante centrar as intervenções nos<br />

âmbitos relacionados ao bairro (e entorno comunitário), as relações interpessoais e a escola,<br />

dado que nesta ordem são os âmbitos que menos satisfeitos estão as crianças e adolescentes<br />

pesquisados. Vemos ainda, que a satisfação com os âmbitos da vida é menor entre os alunos<br />

das escolas públicas e urbanas e que diminui com o aumento da idade e a entrada na<br />

adolescência.<br />

Entre os fatores que influenciam no bem-estar infantil sabemos que os fatores ambientais e<br />

relacionais exercem forte influência. A cidade ou zona onde vivem, e, sobretudo, o bairro como<br />

entorno mais próximo, podem funcionar como fatores de proteção (apoio social) ou de risco<br />

(estresse cotidiano) na vida das crianças. Sentir-se pertencendo a uma comunidade, ter bom<br />

relacionamento com os vizinhos, possuir espaços públicos seguros destinados à socialização e<br />

ao lazer, ter acesso à saúde, transporte, educação e segurança pública na zona onde vive é<br />

fundamental para a promoção do bem-estar infantil. Possuir um senso de comunidade gera<br />

sentimentos de segurança, proteção e colaboração entre as pessoas (Elvas e Moniz, 2010).<br />

Lamentavelmente o âmbito do bairro onde vivem é um dos âmbitos que menos satisfação e bemestar<br />

gera na vida das crianças brasileiras e nordestinas. Apenas 36,3% das crianças e<br />

adolescentes pesquisados podem afirmar com convicção que em seu bairro existem lugares<br />

onde podem se divertir e uma percentagem ainda menor, apenas 23,8% deles, afirma sentiremse<br />

bastante ou muito seguros quando caminham pelo seu bairro. Entre os que pontuaram mais<br />

baixo para estes itens estão as meninas, os alunos das escolas privadas e todos aqueles alunos<br />

que vivem em entornos urbanos. Dados estes alarmantes, se compararmos, por exemplo, com<br />

os dados da pesquisa sobre bem-estar infantil realizada na Espanha, em que 74,1% afirmaram<br />

que estavam muito de acordo ou de acordo que no seu bairro existem lugares onde podem<br />

brincar e se divertir e 76,6% informaram que se sentem seguros quando andam pelo bairro onde<br />

vivem (Casas e Bello, 2012).<br />

Vemos que o problema da violência urbana atinge, ainda que de maneiras distintas, todas as<br />

classes sociais, tendo repercussões gravíssimas no desenvolvimento infantil. E ainda, a falta ou<br />

precariedade dos espaços públicos destinados ao lazer e socialização subtrai, rouba e anula um<br />

dos direitos fundamentais para o desenvolvimento psicossocial saudável de toda criança: o<br />

direito de brincar.<br />

No que diz respeito à avaliação feita pelas crianças dos serviços existentes em seu bairro (tais<br />

como polícia, médico, transporte, áreas de lazer, etc.), vemos que as maiores fontes de<br />

insatisfação são referentes à polícia local e ao transporte público, ambos com médias de<br />

satisfação bastante baixas (5,57 e 6,82 respectivamente). Os alunos das escolas públicas e<br />

urbanas pontuam médias de satisfação mais baixas em quase todos os itens referentes à<br />

avaliação do bairro, exceto para satisfação com os espaços ao ar livre, onde os alunos das<br />

escolas privadas apresentam médias inferiores. Se comparamos com os resultados em<br />

Espanha, vemos diferenças significativas no que se refere às médias de satisfação das crianças<br />

e adolescentes com os serviços existentes no bairro: polícia (7,22); transporte público (8,16);<br />

médico (9,22) e a satisfação com o bairro onde vive em geral (8,85) (Casas e Bello, 2012).<br />

Em relação ao sentimento de pertença ao bairro e convívio comunitário, apenas 33,3% acreditam<br />

que seu bairro é um bom lugar para viver, somente 37,6% afirma que é muito importante para<br />

eles viverem no seu bairro, e apenas 39,2% afirmam sentirem-se em casa no bairro onde mora.<br />

Referente ao convívio e relacionamento com os vizinhos, menos de metade (49,3%) dos alunos<br />

participantes podem reconhecer muitas das pessoas que vivem no seu bairro, apenas 26,6% se<br />

importam com o que os vizinhos pensam de suas ações e menos ainda, 20,1%, podem afirmar<br />

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