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diferentes atores do campo da infância. E, nesse sentido, oficinas são dispositivos potentes por<br />

permitir a construção coletiva sem se ter padrões rígidos de funcionamento.<br />

O projeto iniciou suas atividades em agosto de 2011, em parceria com uma unidade de<br />

acolhimento, que tem como finalidade acolher a infância em estado de abandono, orfandade,<br />

maus tratos e situação de risco. Fundada em 1986, a instituição está localizada em um município<br />

do litoral do Estado de São Paulo e é conveniada com a Prefeitura do Município.<br />

Para essa instituição, o brincar é considerado um fator de proteção à infância e<br />

necessário ao processo de desenvolvimento infantil. Nesse sentido, foi elaborado um projeto de<br />

extensão que visa compor com os princípios da instituição no sentido de potencializar suas ações<br />

no território e nas práticas cotidianas no combate à exclusão social dessas crianças. Considerase<br />

que a introdução de um novo fazer ligado ao brincar provoca efeitos na instituição e que esses<br />

efeitos podem ser apropriados por ela (dentre eles, o ponto de vista que a instituição tem do<br />

brincar e da criança que brinca).<br />

O presente trabalho tem por objetivo apresentar as ações desenvolvidas com crianças<br />

brasileiras em situações de acolhimento, analisando seus efeitos em relação à dinâmica<br />

institucional, ao espaço que o brincar tem dentro da instituição de abrigamento e a relação com<br />

as crianças.<br />

Método<br />

Inicialmente foi preciso fazer uma leitura do cotidiano das crianças e do cotidiano<br />

institucional. A partir das histórias dos indivíduos e de sua relação com o ambiente é que os<br />

alunos extensionistas poderiam pensar na intervenção a ser feita. Segundo Alves (2001) há um<br />

modo de fazer e criar conhecimento no cotidiano que difere do que é aprendido na<br />

contemporaneidade (que desconsidera os processos de criação que ocorrem nesses espaços).<br />

Assim, os alunos extensionistas exercitaram seu olhar para ver e entender de maneira diferente<br />

do aprendido (e naturalizado) as atividades do cotidiano comum.<br />

Para isso, participaram de supervisões, aprofundando conceitos teóricos a respeito da<br />

constituição dos abrigos, do brincar e da brincadeira, do desenvolvimento infantil e da<br />

importância da observação e diagnóstico institucional. Foi elaborado um roteiro de observação<br />

para que pudessem conhecer as crianças, adolescentes, monitoras e equipe técnica, que<br />

contemplava os seguintes aspectos: espaço físico, o cotidiano e a dinâmica institucional.<br />

Em um primeiro momento foram realizadas observações da rotina das crianças, das<br />

atividades desenvolvidas e da dinâmica institucional como um todo. A cada visita semanal, era<br />

elaborado um relatório, contendo as observações realizadas tanto das crianças, como da<br />

instituição. Além da observação, a interação dos alunos com as crianças resumiu-se em brincar<br />

com os brinquedos disponíveis (sem levar nada de novo ou alguma oficina mais elaborada),<br />

observar o modo de brincar e de se relacionar das crianças com as brincadeiras peculiares do<br />

local e as dificuldades que emergiam das relações entre crianças-crianças e crianças-adultos. O<br />

período foi destinado, portanto, para se conhecer o cotidiano das crianças e seu repertório de<br />

brincadeiras, levando sempre em conta as histórias contadas por eles a cada dia de visita.<br />

A partir dessa primeira fase de conhecimento e imersão no cotidiano da casa, foi<br />

confeccionado um projeto de intervenção e um calendário de atuação na instituição. O projeto<br />

promoveu a realização de oficinas lúdicas com crianças de 0 a 8 anos, entendendo o brincar<br />

como espaço de criação, que leva em conta a perspectiva que as crianças têm do mundo, e que<br />

são, portanto, favorecedoras do desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade.<br />

Para a construção do cronograma de intervenção, foram escolhidos alguns temas que<br />

seriam orientadores iniciais das brincadeiras, ou seja, que serviriam como disparadores<br />

escolhidos a partir do que se percebeu que faria sentido para as crianças que ali estavam, mas<br />

que estariam o tempo todo sujeitos às negociações e interesses das crianças. Os temas<br />

escolhidos foram: Corpo e Identidade, Conhecendo o Outro, Cooperação, Cidadania e Saúde.<br />

Para trabalhá-los, foram elaboradas diferentes brincadeiras e oficinas, configuradas em um<br />

formato de roteiro de atividades (e, portanto, sujeito a negociações no coletivo), que privilegiavam<br />

o brincar criativo e valorizavam a iniciativa da criança na organização da sua própria atividade<br />

em grupo, mobilizando, assim, demandas e modos de agir dentro e fora da instituição.<br />

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