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A Metodologia adotada<br />
Para o projeto de investigação “Olhares Sonhadores” utilizou-se uma análise qualitativa,<br />
recorrendo ao método de investigação de desenvolvimento. A investigação de desenvolvimento<br />
“visa essencialmente a ação, sendo o valor prioritário a que se refere a eficácia.” (De Ketele e<br />
Roegiers, 1999 apud Oliveira, 2006: p. 71). Este tipo de pesquisa “implica crescimento gradual,<br />
evolução e mudança” e envolve também um sistema criativo (Richey e Nelson, 1996 apud<br />
Oliveira, 2006: p. 72).<br />
O processo de organização e construção de uma investigação de desenvolvimento<br />
começa por analisar o objeto de estudo e a sua realidade envolvente, posteriormente elabora<br />
um modelo e estratégias de realização e implementação do mesmo (Van Der Maren, 1996 apud<br />
Oliveira, 2006).<br />
Através de uma abordagem qualitativa foi possível conhecer de perto, antever detalhes,<br />
comparar situações diferentes, planear e atuar intervenções estreitadas ao contexto, observar e<br />
refletir de forma mais profunda sobre a realidade do presente estudo. Este processo<br />
metodológico próximo ao olhar e sentir antropológico, permitiu o desenvolvimento de um produto<br />
hipermédia final com ambições (auto)reflexivas e metadiscursivas.<br />
Durante a concretização e implementação prática do projeto de investigação, foram<br />
realizadas várias sessões com as crianças, com o objetivo de as conhecer e assim identificar a<br />
melhor forma de comunicar e desenvolver o trabalho com elas. A colaboração e a perspetiva de<br />
cada elemento foi um contributo relevante para compreender a problemática e o fenómeno do<br />
estudo. Portanto, este foi um processo de investigação de desenvolvimento que apontou na<br />
colaboração entre a investigadora e as crianças. Sendo assim, puderam-se criar novas<br />
perspetivas acerca do contexto social e lúdico destas crianças, tendo em conta também a<br />
participação delas no processo de aprendizagem e construção da narrativa Webdocumental.<br />
Como consequência desta cooperação desenvolveu-se uma investigação participativa, a que<br />
“considera heterogéneas formas de caracterização da realidade e produção do conhecimento,<br />
nomeadamente formas práticas, conceptuais, imaginárias e empáticas, através de processos<br />
partilhados entre os diferentes intervenientes do processo de investigação.” (Santana &<br />
Fernandes, 2011: p. 2).<br />
No projeto “Olhares Sonhadores” as crianças participantes puderam utilizar a arte<br />
audiovisual, manuseando os respetivos equipamentos de forma autónoma, para se expressarem<br />
e autorrepresentarem. Portanto, a utilização dos meios audiovisuais, como a fotografia e o vídeo,<br />
para o desenvolvimento de uma investigação participativa poderá funcionar como um fator de<br />
inclusão no processo de criação, visto que a utilização de apenas o registo escrito “promove a<br />
exclusão de muitas crianças como informantes e investigadoras válidas.” (Fernandes, 2005: p.<br />
163).<br />
Trata-se assim de um processo desafiador para a formação e a heurística da<br />
expressividade tecnologicamente co-arquitetada. Fernandes (2005) afirma que a inclusão de<br />
meios audiovisuais na investigação permite que as crianças, ao manusearem estes<br />
equipamentos, acedam a “ferramentas metodológicas inovadoras.” (Fernandes, 2005: p. 163).<br />
Por consequência, estes instrumentos:<br />
(...) serão indispensáveis para documentar e tornar visíveis as representações acerca do mundo<br />
que as rodeia, possibilitando-lhes tornarem-se parceiras no processo da investigação, com<br />
margens de autonomia e criatividade que serão negociadas entre elas e o adulto parceiro do<br />
processo. (Fernandes, 2005: p. 163)<br />
Adriana Fernandes (2010) reflete sobre a utilização do cinema na pesquisa com<br />
crianças, considerando que este é um “formidável instrumento de intervenção, de pesquisa, de<br />
comunicação, de educação e de fruição.” (Fernandes, 2010: p. 54). Deste modo, desenvolveuse<br />
também com a participação das crianças uma metodologia de apropriação fílmica, ou seja, o<br />
grupo participante envolveu-se na realização cinematográfica “o que tem como resultado um<br />
filme em que a auto-mise en scène das pessoas filmadas prevalece em detrimento da mise en<br />
scène do cineasta.” (Freire, 2007: p. 60 ibid. p. 62). Desta forma, tencionou-se proporcionar-lhes<br />
visibilidade e “voz”, uma vez que geralmente as crianças são considerados objetos de<br />
representação e não “sujeitos” ou “atores” da representação.<br />
Julio Wainer (2014) estabelece uma reflexão sobre a história do documentário e a<br />
questão da apropriação fílmica, comentando que ao longo do tempo os sujeitos representados<br />
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