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Nesta escola em especial havia uma influência do espaço onde ocorria a brincadeira. A<br />

grande preocupação com as crianças no parque era porque seu entorno era de cimento e o<br />

medo de que acontecesse algum acidente com as crianças no parque deflagrava a intensa vigília<br />

das professoras.<br />

Wajskop (2009) ao elencar os pontos necessários para garantir que a brincadeira livre<br />

aconteça no ambiente escolar fala da importância do ambiente, com materiais variados e<br />

organizados para cada faixa etária das crianças.<br />

Como afirma Brougère (2010), a criança brinca com os materiais disponíveis no<br />

ambiente destinado à brincadeira. Os materiais e o ambiente sempre serão particulares e<br />

limitados, então ela usa de sua criatividade para ultrapassá-los.<br />

Porém, se a interferência do educador tolhe a criatividade da criança ela fica<br />

impossibilitada de ultrapassar tais limitações. Nos registros dos diários de campo encontramos<br />

que a interferência do professor na brincadeira é em sua grande maioria para vigília e punição<br />

das crianças.<br />

As crianças sentam em pequenos grupos no tanque de areia e começam a<br />

brincar de encher e esvaziar os baldinhos. Dois meninos começam a brincar<br />

de carrinho com os baldes, mas a professora os repreende ‘Atenção! Isso não<br />

é um carrinho!’. A professora estava sentada usando o notebook, mas estava<br />

atenta ao movimento das crianças. Um menino vem até à professora e fala<br />

‘Professora, vou no banheiro’ e a professora responde ‘R., é ‘Eu posso ir ao<br />

banheiro?’. Porque aqui tem adulto para mandar’ (Diário de campo<br />

04/05/2012).<br />

As falas acima mostram como o poder que o educador possui violenta e inibe a ação da<br />

criança, mesmo quando a intenção é de corrigir e ensinar. Basaglia (2001) afirma que o que<br />

caracteriza a instituição é a nítida divisão entre os que detêm o poder e os que não detêm e isso<br />

faz com que as relações existentes sejam de opressão e violência entre os detentores do poder<br />

e os desapoderados.<br />

Por outro lado, o papel do adulto dentro da escola pode ser elemento essencial para<br />

garantir que o brincar livre aconteça e, consequentemente, que haja espaços de invenção, de<br />

curiosidade e de experiências diversificadas.<br />

Nesse sentido, Wajskop (2009) afirma:<br />

Que o adulto seja elemento integrante das brincadeiras, ora como observador<br />

e organizador, ora como personagem que explicita ou questiona e enriquece o<br />

desenrolar da trama, ora como elo de ligação entre as crianças e objetos. E,<br />

como elemento mediador entre as crianças e o conhecimento, o adulto deve<br />

estar sempre junto às primeiras, acolhendo suas brincadeiras, atento às suas<br />

questões, auxiliando-as nas suas reais necessidades e buscas em<br />

compreender e agir sobre o mundo em que vivem. (WAJSKOP, p.52, 53, 1990<br />

apud WAJSKOP, 2009).<br />

Brougère (2010) colabora ao falar que a intervenção do adulto na brincadeira só pode<br />

ser no contexto, seja através do ambiente material, seja pela própria cultura da criança, mas<br />

antes da brincadeira começar. O educador pode modificar e construir o ambiente de acordo com<br />

os resultados desejados, mas pelo caráter incerto da brincadeira nunca se sabe se a criança irá<br />

agir como esperado, porém aumenta-se a chance de que isso aconteça.<br />

Outros educadores referem-se ao brincar como uma constante na escola, como<br />

mostrado na fala abaixo.<br />

Então, eu não acredito que exista assim: essa é a hora de brincar. Claro, para<br />

organização física da escola, tem que haver essa organização mesmo. Mas<br />

não necessariamente que agora é a hora de brincar, agora não é hora de<br />

brincar, entendeu? O brincar ele existe, e você observa milhões de coisas<br />

naquele brincar. (E3).<br />

Porém, como afirma Brougère (2010) quando concebemos o brincar como espaço social,<br />

muitas atividades elementares da criança pequena não são brincadeiras. O brincar como espaço<br />

social supõe regras, escolhas e decisões contínuas da criança.<br />

Ferramenta Pedagógica<br />

Segundo Brougère (2010) a exaltação da natureza colocou a brincadeira no centro da<br />

educação da criança pequena. No século XIX começou a percepção de que a criança é portadora<br />

da verdade, da criatividade e, sobretudo, uma crença quase cega na natureza da criança. Assim,<br />

o uso da brincadeira é justificado no âmbito pedagógico por ser da natureza da criança. Podemos<br />

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