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A investigação com crianças objetiva um conhecimento mais aprofundado acerca dos<br />
universos infantis, as suas culturas e as suas posições e papéis na sociedade; pretende<br />
compreender a visão e a perceção social das crianças e de como estas se relacionam com o mundo.<br />
Assim, compreender a criança nos diversos âmbitos da sua vida permite construir uma perceção<br />
mais clara da sua conjuntura social e cultural. As suas vivências individuais e coletivas traduzem<br />
interpretações e representações da sua realidade e dos contextos que as envolvem.<br />
As metodologias participativas aplicadas à investigação com a infância exigem uma<br />
constante criatividade para o planeamento e definição das várias fases e ferramentas metodológicas<br />
a colocar em prática. Os investigadores que dão início ao seu projeto de investigação com crianças<br />
têm de, sobretudo, assumir uma posição de parceria, humildade e altruísmo com as crianças<br />
investigadoras participantes. Simultaneamente, o respeito e a tolerância pela diversidade,<br />
pluralidade e particularidade de cada criança participante são primordiais. Nenhum procedimento<br />
deverá colidir com as sensibilidades, valores e princípios das crianças. Cada criança deve ser<br />
valorizada e considerada na sua individualidade e particularidade, não havendo qualquer tipo de<br />
espaço para qualquer espécie de discriminação seja de que parte for.<br />
A discriminação etária e geracional – etarismo – vivida pelas crianças, que gera as relações<br />
de poder entre elas e os indivíduos com mais idade e/ou de outra geração, deve ser observada com<br />
apreensão pelas equipas de investigação e estudos da infância. Deve existir uma responsabilidade<br />
com vista à criação de mecanismos eficazes para superar os limites impostos por visões mais<br />
conservadoras e fechadas, que obstruam a livre e total participação das crianças nas investigações<br />
e na sociedade.<br />
Através das práticas criativas, lúdicas e interativas da investigação participativa, as crianças<br />
têm espaço para se expressar num ambiente mais descontraído e familiar, tendo oportunidade de<br />
conversar sobre as suas preocupações, anseios e necessidades. Adotar e incluir brincadeiras e<br />
jogos criativos durante o processo investigativo motiva o grupo, gera contentamento, aprendizagem<br />
e aperfeiçoa a expressão e a imaginação investigativa das crianças (Alderson in Christensen &<br />
James, 2005).<br />
Ao mesmo tempo, os investigadores precisam de criar condições para construir um ambiente<br />
de confiança e abertura para a escuta atenta e interessada. Nestes momentos, colocar a criança a<br />
controlar os recursos, a apropriar-se dos meios de comunicação, a dar opiniões sobre formas de<br />
melhorar a investigação é valorizá-la e criar uma ligação de segurança e afeto. Valorizar o tempo<br />
de cada criança, agradecendo sempre que esta se disponibiliza para o projeto de investigação é,<br />
também, relevante para fazê-la perceber a importância do seu contributo (O’Kane in Christensen &<br />
James, 2005).<br />
A exclusão das crianças das dinâmicas de participação social é uma forma de impossibilitar<br />
a prática dos seus direitos, nomeadamente, o direito a dialogar, de negociar, de propor e de tomar<br />
decisões sobre assuntos que lhes dizem respeito.<br />
O grupo de investigação do projeto 'No meu Bairro, na nossa Cidade a ocupar a Liberdade' foi<br />
composto por 25 crianças (14 meninos e 11 meninas) com idades compreendidas entre os 7 e os 8<br />
anos, e eram alunas da Escola Básica de 1.º Ciclo, sita no seio do Bairro de São Tomé.<br />
A Cidade como palco da Participação Infantil<br />
Tal como em quase todas as cidades Europeias, na sua generalidade, o Porto é uma cidade<br />
antiga, delineada pelo seu ilustre Rio Douro e com um riquíssimo património histórico, que nas<br />
últimas décadas comportou uma vasta modernização. Assim, os contrastes paisagísticos são umas<br />
das características do Porto, tais como as disparidades socioeconómicas, que estes também<br />
espelham. Se por um lado há áreas marcadas pela história da cidade, pela tradição ou pelo mero<br />
abandono, por outro há zonas onde edifícios modernos, grandes empreendimentos, novas avenidas<br />
e autoestradas rasgam o quadro pictórico da cidade.<br />
A heterogeneidade social do Bairro de São Tomé reflete-se no seu quotidiano. Há nele<br />
alguns dos problemas sociais que encontramos em qualquer outro Bairro portuense. Tal quadro<br />
acontece porque o caráter estigmatizador de Bairro é por si só motivo de conflito, de marginalização<br />
social e identidade negativa. Atualmente há uma tendência neste Bairro transversal à cidade do<br />
Porto e aos seus outros Bairros, que é o envelhecimento da população que, curiosamente,<br />
acompanha o envelhecimento do Bairro, do seu edificado e espaços comuns.<br />
O Bairro de São Tomé não apresenta qualquer equipamento ou infraestrutura dedicada às<br />
crianças. Não há qualquer parque infantil nem espaços verdes, com a exceção de algumas árvores<br />
que ladeiam alguns dos prédios do Bairro. A sujidade, a degradação e o cinzento dos edifícios, o<br />
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