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Surgida no séc. XX, a sociologia da infância desenvolve-se na perspetiva de enriquecer os<br />
estudos sobre as crianças e os seus contextos sociais, e de estabelecer, do ponto de vista teórico<br />
e metodológico, a noção da posição das crianças como atores socais completos e competentes. A<br />
sociologia da infância transpõe os paradigmas e os limites da investigação tradicional da psicologia<br />
do desenvolvimento ou da pedagogia, para assim compreender a infância como uma categoria<br />
social, autónoma, observável e examinável no campo das relações com a ação e a estrutura social<br />
(Pinto & Sarmento, 1997). Portanto, o estudo das culturas infantis deve ser concretizado nos<br />
contextos em que as crianças estão inseridas, o lugar onde vivem, os espaços onde brincam e<br />
interagem, de forma a compreender melhor o modo como agem socialmente, como vivem a<br />
realidade, como a observam e se integram nela.<br />
No período anterior ao surgimento das primeiras visões sociológicas da infância, “as<br />
crianças foram marginalizadas da sociologia devido à sua posição subordinada nas sociedades e<br />
às concepções teóricas de infância e de socialização.” (Corsaro, 2011, p. 18). O avanço dos estudos<br />
sobre a criança, permitiram um olhar mais aberto sobre o papel da criança na sociedade e abriram<br />
horizontes na perceção da criança como uma personagem ativa socialmente, “envolvida na<br />
apropriação de informações do seu ambiente para usar na organização, e construindo a sua própria<br />
interpretação do mundo.” (Corsaro, 2011, p. 22).<br />
As crianças são seres humanos com vontades, desejos, medos, anseios, aspirações, que<br />
se constroem e estruturam a partir das suas práticas sociais (processo de socialização), da<br />
educação, dos laços que criam e constroem com os que as rodeiam. A criança é um ser<br />
biopsicossocial (biológico, psicológico e social), por isso a importância do caráter holístico para o<br />
estudo do grupo na sua essência e traços específicos. A interdisciplinaridade dos estudos sobre a<br />
infância tem defendido pesquisas que deem voz às crianças e lhes permita intervir no seu meio e<br />
construir e gerar conhecimento social. As crianças, com as suas visões criativas e interativas e a<br />
sua capacidade de negociação, são capazes de criar novas culturas e novas formas de serem<br />
crianças em cada momento. Elas partilham e produzem valores sociais e culturais e, com isso,<br />
marcam a geração a que pertencem (Agostinho, 2005).<br />
As crianças criam histórias a partir de outras histórias, reconstroem materiais, exploram,<br />
inventam e reinventam brinquedos, fantasiam, libertam-se dos sentidos habituais dos objetos e<br />
geram novos significados à realidade e às coisas que as rodeiam, elas produzem cultura. As<br />
crianças têm a capacidade de ver o mundo de uma forma diferente, original e questionadora. E é<br />
isto que as torna tão particulares (Kramer, 2007).<br />
Não há uma infância, há várias infâncias, tendo em conta o contexto em que cada criança<br />
se insere e as diversidades políticas, económicas, sociais e culturais. Compreender a existência de<br />
várias infâncias, é ter em conta que há várias realidades e é entender a infância como um fenómeno<br />
social plural e aberto do ponto de vistas das ideias, interpretações, contextos, afetos, relações,<br />
educação e cultura (Sarmento, 2002a).<br />
Identidade e<br />
Cultura Própria<br />
Fenómeno social plural,<br />
variável e aberto<br />
Construção<br />
Social<br />
INFÂNCIA<br />
Grupo Social<br />
Processo de<br />
desenvolvimento social,<br />
cognitivo, emocional…<br />
Processo dinâmico de<br />
construção e<br />
transformação<br />
Figura 1 - Esquema sobre a conceção de Infância segundo a Sociologia da Infância.<br />
(elaboração: Ana Garcia)<br />
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