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A Infância Sem Lugar: mecanismos de exclusão e resistência<br />
Luiza Pereira Monteiro<br />
Universidade Estadual de Goiás, Brasil<br />
luizaintelect@hotmail.com<br />
Resumo - Objetivamos traçar um cenário da condição da criança e do adolescente<br />
deslocados, sem lugar, desterritorializados, em Goiás, especificamente em Goiânia. As<br />
fontes de análise são as experiências e os dados da Primeira Pesquisa Censitária Nacional<br />
sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua no Brasil, especificamente os dados de<br />
Goiás, Goiânia (2010). Queremos entender o processo de produção dessas crianças<br />
pertubadoramente estranhas, se olhadas na perspectiva da sociedade, e pensar a sua<br />
alteridade estrangeira (GALO, 2002), em uma sociedade cujo discurso oficial sobre a infância<br />
apresenta-a de modo unívoco, sob a perspectiva da normalidade e da verdade dominante.<br />
Refletir acerca da infância sem lugar nos coloca diante de um cenário um tanto (às vezes<br />
absolutamente) insólito, cuja paisagem é marcada pela problemática da pobreza infantil e da<br />
violação dos direitos da criança e do adolescente. A exclusão desses sujeitos não será aqui<br />
analisada apenas como efeito da exploração econômica de suas famílias e das próprias<br />
crianças; mas como produto dos processos de sujeição, das técnicas de disciplinamento e<br />
normalização, que definem e circunscrevem um lugar para cada criança e/ou adolescente de<br />
acordo com a sua classificação como apta ou inapta, como normal ou anormal (Foucault,<br />
2008). As crianças e adolescentes que excedem os limites desse processo classificatório,<br />
inclusivo e exclusivo das normativas disciplinares na sociedade atual, são aquelas sem lugar,<br />
desenraizadas, desfiliadas institucionalmente. Pensamos a sua condição de viver, trabalhar<br />
ou perambular pelas rua das grandes, médias e não raro das pequenas cidades, mais como<br />
uma dinâmica de resistência à violência que lhe é imposta, do que propriamente à<br />
necessidade de complementação da renda familiar e autosustento.<br />
Palavras-chave: Infância. Sem lugar. Exclusão. Resistência.<br />
1. Introdução<br />
Objetivamos traçar um cenário da condição da criança deslocada, sem lugar, em Goiás.<br />
Utilizamos como fonte de análise as experiências e os dados da Primeira Pesquisa Censitária<br />
Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua no Brasil 31 , especificamente os<br />
dados referentes a Goiânia (2010). Queremos entender o processo de produção dessas crianças<br />
pertubadoramente estranhas, se olhadas na perspectiva da sociedade, e pensar a sua alteridade<br />
estrangeira (GALO, 2002), em uma sociedade cujo o discurso oficial sobre a infância apresentaa<br />
de modo unívoco, sob a perspectiva da normalidade e da verdade dominante. Refletir acerca<br />
da infância sem lugar nos coloca diante de um cenário insólito, cuja paisagem é marcada pela<br />
problemática da pobreza infantil e da violação dos direitos da criança e do adolescente. A<br />
exclusão desses sujeitos não será aqui analisada apenas como efeito da exploração econômica<br />
de suas famílias e das próprias crianças; queremos pensá-la mais como produto dos processos<br />
de sujeição, das técnicas de disciplinamento e normalização, que definem e circunscrevem um<br />
lugar para cada criança e/ou adolescente de acordo com a sua classificação como apta ou inapta,<br />
como normal ou anormal. Pensar a sua condição de viver, trabalhar ou perambular pelas ruas<br />
das grandes cidades, não como uma anomalia ou um desvio, e sim como uma dinâmica de<br />
resistência à violência que lhe é imposta, como uma forma de sobrevivência, de complementação<br />
da renda familiar e de autosustento. Essas dinâmicas de rua promovem a criação de redes de<br />
convivência, afetividades e comprometimentos; mas, sobretudo, o ficar nas ruas como uma<br />
31<br />
Pesquisa realizada em 2010, Convênio nº724549/2009 firmado entre a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e o<br />
Instituto de Desenvolvimento Sustentável (IDEST), e depois invalidada em todo o território nacional, em função dos<br />
equívocos de estratégias metodológicas, na pesquisa de campo conduzida pela Meta Instituto de Pesquisa de Opinião.<br />
Em Goiás, por intervenção das instituições de atendimento a infância e do Ministério Público, a pesquisa foi transferida<br />
para a PUC-GO, sob a coordenação da autora deste texto e da professora Maria Luiza de Oliveira, que na altura era<br />
Diretora do Instituto Dom Fernando/PUC-GO. O relatório nacional foi disponibilizado pela META Instituto de<br />
Pesquisa de Opinião, no seu próprio sítio.<br />
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