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As crianças exploram os seus cinco sentidos quando estão a brincar e gravam a vida que<br />

permanece nas suas memórias. Brincar na natureza é para elas o que há de mais sublime. Em<br />

contacto direto com a natureza, sentem que é o lugar onde vivem a plenitude, a felicidade. No<br />

entanto, o contacto íntimo com a natureza é já um raro momento para muitas crianças no mundo e<br />

“crianças que não brincam na natureza, não se preocupam em protegê-la” (Monbiot, 2015).<br />

As crianças estão abertas aos desafios mas precisam de oportunidades, de tempo, de espaço<br />

e de autonomia para poderem exercer estas aventuras que quando se dão em contato íntimo com<br />

as paisagens naturais expressam-se com uma riqueza de significados. Como os sistemas vivos são<br />

baseados em padrões de processos e interdependência, ou seja, em processos não lineares, mas<br />

sim sistêmicos, torna-se necessário modificar uma série de formas de pensar e de estar no mundo<br />

e isso envolve várias mudanças de pontos de vista, como: compreender o mundo através do todo e<br />

não das partes; valorizar mais as relações entre os ecossistemas e os seres humanos do que os<br />

objetivos precisos que consideram pouco as relações afetivas; visualizar a qualidade mais que a<br />

quantidade e valorizar mais os processos que as estruturas para propiciar a participação e fazer as<br />

com que as pessoas se sintam parte do mundo, não estar apenas nele (Capra, 2007). As cidades,<br />

as escolas, o lar representam experiências emocionais constantes onde a presença ou a ausência<br />

da natureza tem marcos importantes nos sentimentos infantis.<br />

A neurociência aplicada ao desenho urbano e ambiental está a estudar a origem da psicologia<br />

dos comportamentos humanos. Assim, utiliza a psicogeografia para tentar canalizar e humanizar a<br />

arquitetura e o desenho urbano e oferecer maiores espaços às crianças (Ellard, 2015). Um ambiente<br />

estimulante pode ser decisivo na capacidade da criança de entender conceitos de geometria<br />

espacial, ser criativa ou ter um discurso articulado. É importante propiciar espaços ambientais onde<br />

a presença da natureza ofereça oportunidades para desenvolver e trabalhar o maior número de<br />

conexões neurais possíveis. Estes estímulos ambientais são imprescindíveis para o<br />

desenvolvimento das potencialidades cerebrais e para uma mente mais ampla de pensamento<br />

aberta e alegre (Oliveira, 2004).<br />

A ternura e a afetividade são necessidades fundamentais para todo o ser humano. Muito mais<br />

ainda são necessidades que nos tornam humanos. A sua presença é indispensável para uma<br />

construção equilibrada da personalidade humana no processo de maduração. Assim também tem<br />

uma relação direta com a convivência, oferecendo sinais ilustrativos de identidade (Janes, 2007) e<br />

do agrado da convivência. A Matilde, uma criança de 9 anos, afirma que não é possível viver sem<br />

conviver. Os seres humanos são seres sociais que precisam dos outros para subsistir. Mais que<br />

falar de subsistência, poder-se-ia afirmar que se precisa da afetividade dos outros para ser feliz.<br />

A convivência limita ou reconhece a existência do outro. São práticas socioeconómicas,<br />

políticas, culturais, educativas onde se partilham os valores adotados pelos seres humanos.<br />

Vivemos num mundo complexo. Temos que fazer um esforço e refletir sobre o papel dos<br />

nossos recursos naturais que são limitados. Neste sentido, as crianças devem crescer<br />

sensibilizadas e com sentimentos específicos destinados à Natureza e à Terra. Elas têm o direito e<br />

devem estar próximas à natureza para que cultivem o respeito e sentimentos mais profundos. “Há<br />

chance de salvamento. Mas para isso devemos percorrer um longo caminho de conversão de<br />

nossos hábitos quotidianos e políticos, privados e públicos, culturais e espirituais” (Boff, 1999 :17).<br />

Quando as crianças têm a oportunidade de sair do espaço fechado do interior da escola onde<br />

se encontram limitadas, mesmo as crianças de zonas rurais, elas apreciam e pintam a paisagem<br />

com enorme detalhe. Tudo o que viveram e gravaram na mente revelou-se, por exemplo, neste<br />

desenho (02) de Núria Rodrigues (9 anos) do Centro Educativo da Facha quando fomos caminhar<br />

até ao rio Tinto, a poucos metros de sua escola.<br />

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