livro_atas
livro_atas
livro_atas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
QUADRO 1: TIPOS DE REPRESENTAÇÕES QUE INTERFEREM NA PRÁTICA ESPACIAL INFANTIL<br />
Sobre a<br />
Infância<br />
ser<br />
(competências reconhecidas)<br />
devir<br />
(potencialidade)<br />
ser-que-será<br />
(incompletude e incompetência)<br />
lazer<br />
encontro<br />
segurança<br />
perigo<br />
falta<br />
consumo<br />
Sobre o<br />
Espaço<br />
Público<br />
(conversar<br />
,brincar,<br />
lanchar,<br />
namorar,<br />
passear,<br />
caminhar)<br />
(com amigos,<br />
com os pais,<br />
com conhecidos<br />
e<br />
desconhecidos,<br />
com criminosos,<br />
usuários de<br />
drogas, etc.)<br />
(um lugar que<br />
não é<br />
perigoso, não<br />
apresenta<br />
risco,<br />
minimamente<br />
seguro)<br />
(violência<br />
do crime e<br />
do trânsito)<br />
(sem espaços<br />
adequados,<br />
sem espaços<br />
especializado<br />
s para o<br />
lazer, sem<br />
segurança,<br />
etc.)<br />
(associação<br />
entre lazer e<br />
consumo:<br />
padaria,<br />
shopping,<br />
bomboniere,<br />
mercado, lojas<br />
de roupas e<br />
bijuterias,<br />
parque de<br />
diversões,<br />
etc.)<br />
Estas representações, apesar de serem encontradas nas falas e ações das crianças, não<br />
correspondem apenas àquelas elaboradas por elas, tratam-se de representações de origem<br />
híbrida, formadas por diversos agentes: a família (responsáveis), o Estado (poder público),<br />
sociedade (senso comum) e a própria infância (ou as crianças).<br />
A maneira como se constroem os espaços de liberdade e de não-liberdade depende da situação<br />
a que se está a analisar. Esses espaços variam em cada contexto e para cada criança. No<br />
entanto, algumas características se mantêm para a realidade e prática espacial das crianças do<br />
centro de Salvador e a chave que encontramos para a descrição dos espaços de liberdade e<br />
não-liberdade está em duas duplas de conceitos que emergem como ferramentas para que se<br />
compreenda, por um lado, o movimento gerado pelos estados de liberdade, através das<br />
dimensões de tempo e espaço; e, por outro lado, para ter presente a importância das marcas<br />
produzidas e deixadas, dos registros, dos aprendizados, as competências adquiridas e/ou<br />
atualizadas, e compreender a participação dessas crianças na vida urbana, utilizamos as noções<br />
de apropriação e experiência.<br />
Liberdade Ativa<br />
O estado de liberdade ativa representa o desejo e a ação sendo positivados, levados a cabo pela<br />
própria criança. Neste estado a criança é causa ativa de suas ações; existe uma atividade<br />
criativa, inventiva, colaborando em sua constituição como ser, autônomo, obedecendo suas<br />
próprias regras e se responsabilizando pelas consequências de segui-las. Por estarmos nos<br />
referindo à prática espacial infantil no espaço público e à autonomia enquanto um poder agir<br />
independente do adulto responsável, identificamos nesse estado um tipo de liberdade em que o<br />
desejo da criança é a peça fundamental na construção dessa prática. Nesse estado, a criança<br />
escolhe estar ou não no espaço público, do mesmo modo que suas ações nesse espaço se dão<br />
também por sua vontade e escolha.<br />
Se observarmos as crianças nas ruas, individualmente, perceberemos que a liberdade ativa tem<br />
por característica, na maioria das vezes, o registro de momentos rápidos, passageiros, por vezes<br />
o tempo de um gesto. É o tempo do desejo, da brincadeira, da imaginação e também da<br />
desobediência e da transgressão. Nesse estado de liberdade, as crianças do centro da cidade<br />
gerenciam seu próprio tempo, embora em condições diferentes para cada criança. Por isso,<br />
afirmamos que o tempo da liberdade ativa se encontra nos detalhes, no tempo gasto em um<br />
desvio no caminho, no tempo dispensado na brincadeira de luta com o colega no meio do<br />
percurso de volta pra casa, na economia do tempo possibilitada por um atalho, ou no uso do<br />
tempo, que muitas vezes nem se tem, ao esperar para acompanhar um amigo que a mãe nem<br />
imagina que se tem. É o tempo das ações espontâneas, não planejadas, ou, pelo menos, não<br />
planejadas pelo ou com o adulto. Está presente nas reuniões entre colegas na saída da escola,<br />
no tempo de espera por um amigo que demorou a sair ou no tempo gasto na loja de bijuterias,<br />
esquecendo-se do horário de entrada no projeto social.<br />
E assim como o tempo da criança é gerido majoritariamente pelo mundo adulto, o seu espaço<br />
segue a mesma lógica. Lugar de criança é onde? Essa é uma pergunta cuja resposta pronta,<br />
159