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desenvolver as próprias práticas de investigação, permitindo-lhes assumir um papel ativo e<br />

participativo.<br />

Quando optamos pela construção do conhecimento a partir das representações das crianças, a<br />

escolha pela sociologia da infância (SI), como área de estudo central desta investigação, parecenos<br />

inevitável. Para a SI, a participação das crianças é uma condição prioritária para o desenrolar<br />

da investigação sendo que, ao defender um papel renovado para a criança nas ciências sociais,<br />

reforça a exigência científica de “construir o conhecimento em parceria com as crianças, encaradas<br />

como atores sociais e co-construtores, que podem e devem ser estudados a partir de si próprias”<br />

(Fernandes, 2005:8).<br />

Este estudo cresceu tendo em conta o que é importante para a criança e qual o seu ponto de vista<br />

sobre as diferentes temáticas abordadas. Ao longo de todo o percurso, as crianças foram encaradas<br />

como atores sociais e sujeitos de direitos, ou seja, criadoras da sua própria história. Em todos os<br />

momentos, as suas vozes foram valorizadas, ou melhor, ouvidas. Por outro lado, ao recorrer à<br />

sociologia urbana e ao ter como fonte direta de recolha de dados o ambiente natural onde as<br />

crianças se inserem (o bairro), tornou-se possível que as suas ações sejam melhor compreendidas,<br />

dado que o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que ocorre (Bogdan&Biklen,<br />

1994:48). Tornou-se possível, assim, dar a conhecer o que as crianças experimentam, o modo como<br />

interpretam as suas experiências e como estruturam o mundo em que vivem (Bogdan&Biklen, 1994).<br />

Com vista a assegurar uma relação participada, a investigadora convidou as crianças a participarem<br />

na investigação, informando-as, com o máximo de pormenor possível, sobre o objetivo do estudo,<br />

quais os procedimentos a ter em conta, entre outras informações pertinentes, nomeadamente a<br />

possibilidade de deixarem de participar, em qualquer momento da investigação, desde que assim o<br />

desejassem. Ao fornecer toda esta informação procuramos obter um verdadeiro consentimento<br />

informado.<br />

Em parceria com as crianças fomos construindo o percurso de investigação, num constante<br />

incentivo à participação ativa e dinâmica, provocando a reflexão e questionando sobre possíveis<br />

ferramentas de ação. Partindo do pressuposto que tudo o que é observável e tem potencial para<br />

permitir uma maior compreensão do objeto de estudo, todos os dados da investigação foram<br />

recolhidos em forma de palavras e imagens, incluindo entrevistas individuais e coletivas, mesas<br />

redondas, textos, desenhos, notas de campo, fotografias, vídeos e observação, entre outros.<br />

Construímos instrumentos de investigação, resultantes de questionamentos, reflexões e diálogos<br />

com as crianças que participaram nesta investigação, e que nos permitiram a recolha de dados do<br />

modo que consideramos mais se adaptar ao quotidiano destas crianças. Optamos por uma<br />

triangulação metodológica, tendo recorrido a diferentes métodos e/ou instrumentos com vista a<br />

validar o mais possível a informação recolhida (Aires, 2011:55).<br />

Durante este processo, a investigadora procurou reduzir o seu papel a uma presença facilitadora do<br />

processo, procurando envolver o mais possível as crianças na investigação e tentando gerir as<br />

dinâmicas de modo a não interferir com os discursos. Como refere Freire, a investigadora é apenas<br />

uma facilitadora que medeia as intenções das crianças (Freire, 1973).<br />

O discurso oral e direto assumiu grande destaque, mas os comportamentos, gestos, atitudes e<br />

expressões assumiram igual importância. Todos estes dados foram respeitados e analisados do<br />

modo mais imparcial possível, seguindo uma abordagem exploratória, ou seja, sem confirmação de<br />

hipóteses (teoria fundamentada). As generalizações foram sendo construídas paralelamente à<br />

recolha, agrupamento e análise dos dados, acontecendo um permanente questionamento sobre o<br />

que se passa, numa tentativa de encontrar o que reside para além daquilo que acontece.<br />

O trabalho de campo realizado, no âmbito desta investigação, teve início em Outubro de 2013 e<br />

prolongou-se até final de Junho de 2015, após a celebração dos devidos protocolos. Neste estudo<br />

participou um grupo de crianças distribuídas em dois anos letivos: 28 crianças durante o ano letivo<br />

2013/2014 e 22 crianças no ano letivo 2014/2015.<br />

Deste processo resultou: um documentário em vídeo sobre o bairro do Lagarteiro, filmado e editado<br />

pelas crianças; um jornal escolar impresso com a angariação dos fundos recolhidos pelas crianças;<br />

a elaboração de cartazes de sensibilização sobre más condutas na escola; reuniões com a<br />

coordenadora da escola e contacto com a Câmara Municipal do Porto com o objetivo de expor<br />

situações problemáticas na escola e no bairro.<br />

Conclusões<br />

As crianças que vivem num bairro de habitação social são iguais a tantas outras, mas também muito<br />

diferentes pelos contextos de vida em quem se encontram inseridas e, como tal, estes contextos<br />

têm de ser tidos em conta. Devem ser encaradas como crianças que se movem em territórios<br />

marcados por uma realidade que se traduz, por vezes, em isolamento, exclusão e estigma, mas<br />

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