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dentro dele, enformadores de um habitus infantil distinto dos modos adultos de significação e ação”<br />

(Silva, 2011: 193). Elas adoram assumir compromissos e desafios. Gostam de participar e desfrutar<br />

de diferentes atividades. A sua curiosidade nata fusiona-se com uma criatividade, imaginação e<br />

espírito lúdico e talentos próprios que experimentam na medida das condições ambientais, da<br />

paisagem onde se encontram e da sua autonomia e liberdade.<br />

“A cidade não pode ser apropriada se não for sonhada tal como acontece com a vida, não<br />

é apenas um lugar para habitar, é também para imaginar” (Pais, 2010: 79). Trata-se de redefinir a<br />

cidade e os seus valores, com as suas virtudes, possibilidades e potencialidades, de reconstruir as<br />

oportunidades para o espaço comum, coletivo, público, equitativo, inclusivo e de encontro, de<br />

renovar o convite permanente para o relacionamento entre crianças, os adultos numa cidade<br />

ambiental e socialmente sustentável.<br />

A sociedade humana contemporânea e a transformação das dinâmicas infantis<br />

Como consequência da degradação dos espaços urbanos, as crianças têm na atualidade<br />

experiências limitadas. Estão mais expostas e influenciadas por culturas de consumo massivo<br />

promovidas pelos meios de comunicação que maioritariamente tratam de uniformizá-las. São<br />

conduzidas por uma cultura urbana insustentável associada a uma vida citadina onde a mobilidade<br />

está completamente vinculada ao automóvel. A cidade é fragmentada e edificada sobre a base de<br />

condomínios, muitas vezes, fechados e por extensas edificações comerciais especializadas,<br />

marcadas pela globalização dos grandes Shopping Center (Padilha, 2011). Nas grandes e médias<br />

cidades, os espaços são cada vez mais vazios, inseguros, sem identidade, extensivos,<br />

fragmentados e inóspitos; obrigando a sociedade e muito mais as crianças, a viverem isoladas<br />

(Oliveira, 2004).<br />

A sociedade urbana engloba um certo sistema de valores, normas e relações sociais com<br />

uma especificidade histórica e uma lógica própria de organização e de transformação (Castells,<br />

2000). Infelizmente os exemplos e modelos urbanos contemporâneos não representam uma<br />

organização harmónica e propiciam modos de vida insustentáveis. Frente a estas realidades, a<br />

criança, como ator social, necessita de ser convidada a dialogar e propor. A sua participação<br />

fortalece a sua cidadania e estimula a construção partilhada de propostas urbano-ambientais onde<br />

elas possam ser protagonistas nesse processo já que a infância poderia reproduzir a sociedade de<br />

consumo ou poderia ser parte ativa na transformação positiva de hábitos (Novo, 2006).<br />

As condições as quais a infância está submetida nas cidades do mundo contemporâneo são<br />

uma preocupação constante para as instituições como a UNICEF que selam pela proteção e os<br />

direitos das crianças. “As características das sociedades pós-industriais (hábitos sedentários, stress<br />

emocional, maus hábitos de vida do ponto de vista corporal e inatividade física) e o nascimento de<br />

uma sociedade de informação revestem uma padronização de valores, atitudes e comportamentos.<br />

É urgente a necessidade de uma tomada de consciência por motivo das mudanças ocorridas na<br />

estrutura familiar, escolar e social” (Neto, 1997: 10). Também muitas das brincadeiras entre as<br />

crianças, dentro dos espaços do recreio, no interior das escolas, dão-se de maneira violenta,<br />

representada por uma marcada influência dos jogos eletrónicos, filmes e desenhos animados<br />

dominados por cenas agressivas.<br />

A tendência de institucionalizar as atividades de tempo livre das crianças e jovens é um dos<br />

fenómenos mais frequentes do fim do século XX e o presente século XXI. As grandes<br />

transformações das cidades têm afetado a relação da infância com o espaço e o tempo.<br />

Anteriormente, as crianças tinham tempo para explorar e partilhar com outras crianças e com um<br />

universo de coisas que estimulavam a sua imaginação e a sua mobilidade corporal.<br />

Hoje a sociedade humana precisa repensar as estruturas urbanas que limitam a<br />

possibilidade das crianças brincarem sobre espaços públicos seguros e ambientalmente<br />

agradáveis. As brincadeiras e o tempo livre na infância são primordiais para o desenvolvimento de<br />

múltiplas habilidades. Estimula a criatividade, a autoestima, a saúde das crianças e desvinculamnas<br />

de hábitos de consumo que não são propriamente condicentes com uma sociedade sustentável<br />

e saudável (Neto, 1997).<br />

Assiste-se a uma fragmentação urbana (Figura 01) que leva à coexistência de várias<br />

cidades na mesma cidade. Há também uma estrutura de desigualdades de oportunidades no que<br />

diz respeito ao acesso a bens materiais, culturais e simbólicos que as cidades têm para oferecer<br />

(Pais, 2010). Como consequência, as crianças crescem em ambientes de retalhos, sem identidade<br />

onde não são consideradas como atores sociais na sociedade, como parte de iniciativas políticas<br />

em prol do seu desenvolvimento pleno. Assim como não põem em prática os seus deveres e direitos<br />

em favor de uma cidadania construtiva e educativa. Privá-las destas experiências leva-as à exclusão<br />

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