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Entre estados e espaços de liberdade: uma leitura da prática espacial de crianças<br />
moradoras do Centro da Cidade de Salvador<br />
Mel Travassos de Britto<br />
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo<br />
Universidade Federal da Bahia<br />
travassosmel@gmail.com<br />
Resumo – Tida como o período de enfrentamento dos riscos e a descoberta do outro, a<br />
infância, de modo geral, tem se moldado a partir de realidades distintas na cidade, entre<br />
discursos, leituras de realidade, desconhecimento, constrangimentos, restrições,<br />
afrontamentos, subversão e sinais de cumplicidade. A partir do entendimento dessas<br />
múltiplas realidades, buscamos problematizar como a prática espacial das crianças no<br />
espaço público é regida por estados de liberdade que se constituem, sobretudo, a partir de<br />
representações, sobre a infância e sobre a cidade, elaboradas tanto pela criança, quanto pelo<br />
adulto, que se fazem presentes nos contextos infantis, através de desejos, normas e<br />
exigências familiares, necessidades legais e no projeto de cidade elaborado por gestores e<br />
planejadores das cidades. A partir de uma investigação etnográfica com sete crianças<br />
moradoras do Centro da Cidade de Salvador, considerando suas competências e<br />
performance no espaço público, identificamos e analisamos os possíveis estados de<br />
liberdade que condicionam o seu estar nesse espaço, a apropriação e a possibilidade de<br />
experiência que esses espaços de liberdade oferecem. Ancorados na teoria de Henri<br />
Lefebvre sobre a produção do espaço e no entendimento da Sociologia da Infância sobre as<br />
competências e potencialidade das crianças, aproximamos os temas cidade e infância em<br />
uma discussão sobre a liberdade da criança na cidade, em seus movimentos autônomos,<br />
independentes ou impostos. Com esta investigação compreendemos que a relação que a<br />
criança estabelece com esse espaço gera consequências diretas na apropriação e<br />
experiência infantil da cidade, a partir de onde ela (re)interpreta e (re)produz representações<br />
sobre o espaço público, a cidade e o espaço urbano. A prática espacial da criança torna-se,<br />
neste entedimento, um exercício de sua liberdade e o espaço público, palco emblemático<br />
onde os movimentos de todas as naturezas acontecem e para onde converge a expressão<br />
da liberdade.<br />
Palavras-chave: Criança – Prática Espacial – Espaço Público – Cidade - Liberdade<br />
A presente comunicação se origina em pesquisa realizada no âmbito do mestrado em Arquitetura<br />
e Urbanismo no qual me debrucei sobre questões da infância e da cidade, problematizando como<br />
a prática espacial infantil nos espaços públicos é regida por estados de liberdade constituídos a<br />
partir do contexto social de cada criança. Onde se encontram representações tanto sobre a<br />
infância como sobre a cidade, elaboradas pelos adultos e pela própria criança, e que determinam<br />
as ações infantis autônomas, independentes, impostas ou mesmo a ausência dessa criança no<br />
espaço público.<br />
Ao propormos uma discussão sobre a liberdade da criança nos espaços públicos da cidade,<br />
entendemos que dois aportes teóricos seriam fundamentais: uma discussão sobre o espaço,<br />
uma vez que precisávamos compreender a sua produção e apropriação; e uma discussão sobre<br />
a infância, a partir de uma visão sociológica. Para isto, recorremos, entre outras, à teoria do<br />
filósofo Henri Lefebvre sobre a produção do espaço (social) e à Sociologia da Infância, através<br />
de alguns de seus mais importantes autores e autoras – os sociólogos Jens Qvortrup, Willian<br />
Corsaro e a socióloga Regine Sirota, por exemplo.<br />
Em sua divisão conceitual triádica da noção de espaço, Lefebvre (2013) propõe que o espaço<br />
seja formado por três dimensões dialeticamente interconectadas. A prática espacial não<br />
acontece de forma isolada, sendo apenas uma das três dimensões da produção do espaço<br />
(social) que se fazem através da prática social. A prática espacial é tensionada, a todo momento,<br />
por dois outros modos de configuração de ideias e do entendimento (socioespacial), que<br />
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