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Crianças Promotoras De Mudança Num Bairro Social Do Porto<br />

Maria João Pereira*<br />

Instituto de Educação, Universidade do Minho<br />

mariajoaopp@netcabo.pt<br />

Resumo - O presente texto tem como base o estudo em curso sob o tema “Infância em territórios<br />

de exclusão: As crianças como agentes de mudança”, que teve como principal objetivo a criação e<br />

implementação de dinâmicas participativas e cidadãs. Para o efeito propusemo-nos a dar voz a um<br />

grupo de crianças que vive e/ou se move no bairro do Lagarteiro, sendo este o ponto de partida para<br />

conhecer as representações que fazem daquele local, das pessoas que por ali andam e da escola<br />

que frequentam, nomeadamente sobre o que necessita (ou não) de uma mudança.<br />

Assumimos a sociologia da infância como área de estudo de partida por encarar as crianças como<br />

um grupo social, com direitos reconhecidos (Fernandes, 2009) e como atores sociais nos seus<br />

mundos de vida (Sarmento, 2000), autores da sua própria história. Recorremos, também, à<br />

sociologia urbana, nomeadamente aos seus pressupostos e referências sobre as relações entre os<br />

indivíduos e o espaço, dado que as crianças que estudamos encontram-se inseridas num habitat<br />

com características muito específicas: o bairro de habitação social.<br />

A metodologia qualitativa, através da investigação participativa, permitiu-nos uma construção do<br />

conhecimento assente nas representações das crianças. O reconhecimento e validação do<br />

conhecimento social produzido pela/na infância tornou possível planear, com e para as crianças,<br />

dinâmicas de investigação participativa, de intervenção e de inclusão.<br />

Procuramos envolver o mais possível as crianças na pesquisa, tendo desenvolvido dinâmicas<br />

participativas de investigação com um grupo de 28 crianças, com idades compreendidas entre os 8<br />

e os 12 anos, a frequentar a escola EB/JI do Lagarteiro e, mais tarde, a Escola Básica e Secundária<br />

do Cerco, ambas na cidade do Porto.<br />

Consideramos fundamental privilegiar o diálogo, captar a perspetiva que as crianças têm dos<br />

contextos de exclusão que habitam, ouvindo o que têm a dizer, num processo em que a<br />

investigadora assume o papel de facilitadora que medeia as suas intenções (Freire, 1973). A<br />

construção dos instrumentos de investigação foi feita em parceria com as crianças, tendo resultado<br />

de questionamentos, reflexões e diálogos com os grupos que participaram na investigação. Daqui<br />

resultaram ferramentas variadas como entrevistas individuais e coletivas, textos, desenhos,<br />

fotografias e vídeos, notas de campo, observação, entre outras.<br />

Palavras-chave: Infância, bairro, exclusão e participação.<br />

Quando iniciamos a presente investigação propusemo-nos estudar um grupo de crianças inserido<br />

num contexto territorial muito específico: o bairro de habitação social. Instigados pelo trabalho sobre<br />

“A Infância no Bairro do Lagarteiro: Modos de Ser Criança em Territórios de Exclusão” (2011),<br />

desenvolvido no âmbito do mestrado em sociologia da infância, quisemos dar continuidade ao<br />

estudo, aprofundando o conhecimento sobre a infância nestes territórios.<br />

Acreditamos que uma criança que vive num bairro de habitação social deve ser estudada tendo em<br />

conta o contexto específico em que se move. Ainda que os primeiros e principais laços sociais se<br />

desenrolem através da família, o processo de socialização assimila valores, práticas e hábitos<br />

adquiridos em função de diferentes atores mas, não menos importante, dos espaços em que o<br />

indivíduo se move. Numa fase mais tardia da infância outros agentes de socialização desempenham<br />

o papel que, durante um determinado período de tempo, esteve circunscrito à família. Os pares, a<br />

escola e outras instituições contribuem para o processo de socialização secundária do indivíduo<br />

(Giddens, 2008).<br />

O contexto espacial e social constitui um elemento de socialização determinante para o sujeito, pois<br />

absorve a informação que lhe chega através do local onde habita, dos arredores e das relações de<br />

sociabilidade que mantém com os outros. Sendo que este processo se encontra condicionado em<br />

função do meio envolvente e das gentes que nele se inserem, naturalmente, uma criança que viva<br />

num bairro de habitação social periférico tem ao seu dispor recursos bem diferentes de uma criança<br />

que habite num condomínio fechado de luxo na zona mais cara da cidade (Leandro et al, 2000).<br />

Tendo em conta estes pressupostos recorremos a dois ramos da sociologia, infância e urbana,<br />

procurando uma articulação e complementaridade que nos permita uma compreensão mais<br />

completa e aprofundada sobre os modos de estar e agir de um grupo de crianças que vive no bairro<br />

de habitação social.<br />

Tendo a sociologia da infância e a sociologia urbana como referências, quisemos conhecer as<br />

crianças enquanto atores sociais e cidadãos, nomeadamente compreender a capacidade de<br />

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