livro_atas
livro_atas
livro_atas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A paisagem na vida das crianças e o modo de expressar cidadania<br />
Grécia Rodríguez<br />
Universidade do Minho<br />
greci777@gmail.com<br />
Leonardo Albuquerque<br />
Universidade do Minho<br />
leonardoalbu100@gmail.com<br />
Resumo – As crianças pintam suas paisagens de acordo com a sua imaginação e expressam<br />
nelas suas experiências vividas. Essa sensibilidade nasce, cresce e se desenvolve ao sentirem,<br />
participarem e interagirem intimamente com seus contextos. Os lugares que a pessoa habita<br />
mudam o corpo e a mente (Montgomery, 2013).<br />
As crianças atuam com emoção e desafiam suas próprias capacidades, quando são convocadas<br />
a exercer seu direito de ser parte de algo que lhes diz respeito. Elas assumem os desafios com<br />
determinação e combinam responsabilidade com ludicidade e paixão, especialmente quando a<br />
natureza e ela na cidade estão envolvidas. Guardam memórias detalhadas e respondem aos<br />
afetos com mais afetos. Gostam de repetir as atividades que combinam experimentação e<br />
aspectos sensoriais.<br />
Estas reflexões e análises geradas no marco do Projeto Educativo “Educomunicação, Ambiente<br />
e Cidadania Infantil” surgiram a partir das experiências com os Centros Educativos da Facha e<br />
das Lagoas do Município de Ponte de Lima, Portugal, com o apoio das autoridades do Município.<br />
Com o objetivo de analisar como a paisagem marca a vida das crianças e o modo de comunicar<br />
e expressar sua cidadania implementaram-se ações de sensibilização sobre o protagonismo<br />
infantil na quotidianidade através de práticas de Educomunicação.<br />
A atividade foi desenvolvida junto a 48 crianças de 08 a 09 anos de idade. A metodologia<br />
qualitativa utilizada foi a da criança participante (Alderson 2000; Christensen 2010, Fernandes<br />
2009, Hart 1997) e protagonista em investigações e criações, uma ponte que reforçou a<br />
confiança e o afeto entre os intervenientes permitindo uma observação ampla e uma relação de<br />
bem-estar.<br />
Chegar a compreender a cidadania infantil passa por promover experiências emocionais com<br />
uma perspectiva holística e de compreensão do diverso. Sensibilizar-se com o ambiente natural<br />
e sua presença nos contextos quotidianos representa uma experiência que marca o modo de ser<br />
e estar no mundo. As crianças vivem num mundo saturado de informações e estímulos ao<br />
consumo. Precisam entender as relações que se geram entre a natureza e sua vida. A partir da<br />
percepção e a reflexão podem encontrar seus vínculos na paisagem e seu lugar na sociedade.<br />
Ser, viver e participar de forma cooperativa é uma consequência do agrado da convivência, de<br />
desfrutar a paisagem com sensibilidade e de oferecer contributos em metas partilhadas com o<br />
outro e para o outro (Freire, 2006).<br />
Palavras-chave: criança, paisagem, educomunicação e cidadania infantil.<br />
Introdução<br />
Até finais dos anos 70 e princípio dos anos 80 as crianças viviam, de maneira integral, as<br />
paisagens urbanas e rurais. Essa realidade da infância esteve presente em muitas cidades do<br />
mundo ocidental, de porte meio e pequeno, com diferentes circunstâncias e dimensões. O brincar<br />
fazia parte da vida quotidiana de milhares de crianças, um brincar livre e autónomo que falava de<br />
um ritmo mais acorde com a linguagem infantil.<br />
Estas paisagens urbanas, com as crianças como protagonistas, marcaram as dinâmicas e<br />
memórias de muitas que, agora como pais de crianças destes tempos, ironicamente as limitam com<br />
argumentos diversos, nomeadamente aqueles fatores associados ao aumento do trânsito<br />
automobilístico, a divulgação de notícias relativas a violência divulgada nos média e as novas<br />
pressões laborais das famílias da sociedade atual.<br />
Desde a sua invenção moderna, a infância tem sido tratada como um continente isolado e os<br />
seus habitantes estão sempre condenados à desconfiança e subestimação. “Que lugar é esse que<br />
a criança ocupa…? Qual é o lugar que a contemporaneidade reservou para ela e qual é<br />
especialmente o lugar que a criança e todas as crianças constroem na sua interação mútua, na<br />
edificação dos seus mundos de vida e das suas culturas?” (Sarmento, 2002: 10). Nos diferentes<br />
mundos encontram-se as diversas infâncias com múltiplos paradoxos. Em muitos cenários, fora<br />
90