23.01.2017 Views

livro_atas

livro_atas

livro_atas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

perceber essa concepção na fala de uma educadora como justificativa para transmitir conteúdos<br />

através do brincar:<br />

Na hora do planejamento pensar que a brincadeira faz parte da criança e é<br />

uma coisa natural, então em vez de criar uma atividade com folha por que não<br />

criar um jogo, não é? Ou por que não fazer daquela atividade em folha uma<br />

brincadeira como caça letras, caça nomes, não? (E 8)<br />

Esta concepção elimina a dimensão social da educação da criança que, tal como um<br />

animal é dominada e conduzida pela natureza, da qual a brincadeira é o meio principal de<br />

educação. Assim, dar lugar a brincadeira consiste em propor uma educação natural<br />

(BROUGÈRE, 2010).<br />

Serrão e Carvalho (2011) verificaram em seu estudo que os educadores consideram o<br />

jogo um meio para desencadear as aprendizagens promotoras do desenvolvimento da criança,<br />

ou seja, através do jogo a criança aprende e através dele torna-se mais fácil desenvolver outras<br />

atividades. Porém, é preciso estar atento como este jogo acontece na sala de aula.<br />

Em sua pesquisa, Wajskop (2009) constatou que o jogo é usado como recurso<br />

pedagógico desconstituído do seu sentido social pelos professores e as práticas pedagógicas<br />

são pautadas na concepção de que o brincar e o jogar faz parte da natureza infantil. Assim, as<br />

atividades propostas só teriam eficácia se apresentadas do suposto ponto de vista do faz-deconta<br />

da criança.<br />

Brougère (2010) classifica este tipo de prática como sedução: uma atividade de<br />

aprendizagem, controlada pelo educador, toma o aspecto de brincadeira para seduzir a criança.<br />

Entretanto, a criança não toma a iniciativa da brincadeira, nem tem o domínio de seu conteúdo<br />

e desenvolvimento.<br />

Colaborando com outros estudos (CARVALHO, ALVES e GOMES, 2005; KISHIMOTO,<br />

1997) evidenciou-se que os educadores utilizam o brincar como um facilitador no aprendizado,<br />

mais uma vez assumindo o caráter de jogo pedagógico:<br />

A brincadeira e o jogo são estratégias e o professor vai escolher aquela que é<br />

melhor para aquele momento para alcançar o objetivo dele. (E3)<br />

Mas eu sempre que estou brincando ou algum jogo com eles, eu tento o tempo<br />

todo ensinando ali através daquele momento mesmo de brincadeira, não é? (E<br />

11).<br />

(...) a gente consegue trabalhar os conteúdos através do brincar também...<br />

Então, eu vejo que o brincar ele é importante, não só para o desenvolvimento,<br />

mas também até para gente trabalhar os próprios conteúdos também, não é?<br />

(E7).<br />

Essa ação lúdica que é proposta pelo professor, destinada ao desenvolvimento de<br />

habilidades cognitivas e à aquisição de conteúdos específicos, é definida como jogo pedagógico<br />

e não como brincar (SILVA, 2003).<br />

Segundo Villas Boas (2007) utilizar jogos dentro do contexto escolar como uma das<br />

possibilidades de desenvolver uma área do conhecimento pode se tornar um recurso importante<br />

para o professor, desde que haja uma escolha adequada e que esteja justificado no projeto de<br />

trabalho. No entanto, não parece que é isso que ocorre nos contextos estudados.<br />

Em seu estudo, Wajskop (2009) observou que as escolas de educação infantil têm<br />

utilizado a ação lúdica descontextualizada dos processos cognitivos e históricos experienciados<br />

pelas crianças. Assim, temos a ação lúdica presente dentro do ambiente escolar, porém, não<br />

exercendo seu papel de atividade social, de interação e construção de conhecimentos da<br />

realidade.<br />

Assim, a maioria das escolas tem ´didatizado` a atividade lúdica das crianças<br />

(...). Ao fazer isso, ao mesmo tempo em que bloqueia a organização<br />

independente das crianças para a brincadeira, essas práticas pré-escolares,<br />

através do trabalho lúdico ´didatizado`, infantilizam os alunos, como se sua<br />

ação simbólica servisse apenas para exercitar e facilitar (para o professor), a<br />

transmissão de determinada visão de mundo, definida a priori pela escola.<br />

(WAJSKOP, p. 23 e 24, 2009).<br />

Aliado a isto, temos o preconceito do uso do brincar livre dentro da sala de aula. Uma<br />

professora relata esta situação e ainda como o brincar é usado como forma de distração das<br />

crianças quando o professor precisa realizar procedimentos burocráticos:<br />

261

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!