livro_atas
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Se a criança está imersa, desde o nascimento, em um contexto social que a<br />
identifica enquanto ser histórico e que pode por esta ser modificada é<br />
importante superar as teses biológicas e etológicas da brincadeira que<br />
idealizam a criança e suas possibilidades educacionais (2009, p. 25).<br />
Como afirma Brougère (2010) não há na criança um brincar natural. A brincadeira é o<br />
resultado de relações interindividuais, portanto, de cultura. A brincadeira pressupõe uma<br />
aprendizagem social. Aprende-se a brincar.<br />
Já duas educadoras enfatizam a importância do prazer quando se brinca:<br />
Porque a criança quando está brincando ela está.... Desenvolvendo uma<br />
atividade que a deixa feliz. Uma atividade prazerosa. (E 2)<br />
Defino o brincar como uma atividade prazerosa. Para a criança, acho que no<br />
olhar da criança precisa ser uma coisa livre... Um momento de observação<br />
mesmo do comportamento delas. Mas, eu acho que o que define para mim<br />
mesmo, é ser uma atividade prazerosa, se é para definir, eu acho que a palavra<br />
para definir é prazer. (E 11)<br />
Nesse sentido Brougère (2010) afirma que na brincadeira a criança não busca nenhum<br />
resultado além do prazer que esta atividade proporciona e que pode ser identificada na medida<br />
em que não se origina de nenhuma obrigação, o brincar é livremente consentido.<br />
No entanto, como afirma Vigotski (1998) o prazer não pode ser característica definidora<br />
do brincar, por duas razões, primeiro porque a criança encontra prazer não só no brincar e<br />
segundo porque em algumas brincadeiras a sensação de prazer não está presente.<br />
Ao definir o brincar, uma educadora traz em sua fala a discussão da diferença entre jogo<br />
e brincadeira.<br />
E nem sempre o brincar é a brincadeira, não é? Então, tem gente que acha<br />
que o brincar é só ficar livremente com um jogo e às vezes você, durante o<br />
brincar, num jogo dramático, ou numa brincadeira de livre expressão, ou um<br />
jogo matemático, você está trabalhando uma porção de conteúdos e é um<br />
brincar. E também tem o brincar lúdico, que é um espaço onde a criança pode<br />
usar o faz de conta, aonde ela pode se expressar, corporalmente, mais<br />
fisicamente, e que não é tão dirigido. Então, tem várias áreas do brincar na<br />
educação infantil, não é? (E 10).<br />
A fala da professora mostra a dificuldade de diferenciar jogo e brincadeira quando refere<br />
que utiliza o brincar para trabalhar conteúdos pedagógicos. Também diz que há dois tipos de<br />
brincar, um lúdico e mais livre, e outro mais didático, usado para trabalhar conteúdos.<br />
Silva (2003) adota em sua pesquisa a seguinte definição: o brincar sendo a ação lúdica<br />
iniciada e mantida pela criança e o jogo pedagógico como a ação lúdica destinada ao<br />
desenvolvimento de habilidades cognitivas e à aquisição de conteúdos específicos dirigida pelo<br />
adulto.<br />
Mauriras-Bousquet (1986, apud SILVA, 2003) é uma das referências da definição<br />
descrita acima e traz discussões interessantes sobre o uso do jogo nas escolas. Para a autora,<br />
o conceito de jogo educativo é artificial, prejudica a reflexão e, de fato, impede que desenvolva<br />
uma autêntica pedagogia lúdica. Ela afirma que todos os jogos ensinam algo e também discute<br />
a forma de utilização do jogo na escola, refere ao fato que muitos professores acreditam que<br />
apenas o brinquedo e o jogo, enquanto objetos podem levar a jogar, entretanto, é preciso<br />
enfatizar que não há atividade no objeto.<br />
Três educadores falam do brincar como forma de expressão de sentimentos e interação.<br />
Acho que brincar é um momento onde eles colocam emoções, sentimentos,<br />
é... (...) em algum momento que eles tão passando, eles colocam pra fora<br />
nesse momento.” (E 5)<br />
O brincar é... Como algo importante pra criança, que ela vai colocar ali toda a<br />
vivência dela né, a forma dela se expressar.” (E 7)<br />
(...) é aquela hora do interagir, né, com os amigos, eles interagem com os<br />
amigos, interagem até com o professor também naquele momento. (E2)<br />
Alguns autores como Roza (apud PEDROZA, 2005) mostram como o brincar, na<br />
perspectiva da psicanálise se torna muitas vezes o único veículo possível de expressão para as<br />
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