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A outra criança, uma menina de 8 anos, também moradora de Bento Rodrigues, relata :<br />
“Na nova escola, Silvany brinca com todos os coleguinhas, menos um. Ele não se<br />
salvou. Algumas pessoas dizem que encontraram ele morto, outros dizem que não.”<br />
A saudade da antiga escola aparece na fala de Silvany. “Tinha a quadra e um<br />
parquinho para os meninos menores”. Ela gostava muito de brincar na rua e pular<br />
corda. “Brincava também no barro, sujava a roupa toda e minha mãe brigava.” (...)<br />
(Lampião, 2016: 11).<br />
A morte da menina de 5 anos também foi mencionada nessa matéria pois ela também estudava<br />
na escola de Bento Rodrigues.<br />
III. Aspectos conclusivos<br />
Podemos dizer que até à conclusão deste trabalho não foi localizada nenhuma notícia que<br />
assinale afirmativamente com uma negociação definitiva para a reconstrução dos distritos de<br />
Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. As crianças foram conduzidas, dez dias após o<br />
rompimento da barragem de Fundão, para a escola Municipal Dom Luciano na cidade de<br />
Mariana. Frequentamos esta escola durante as duas últimas semanas de aula e vimos, bem<br />
próximo a nós, como as crianças estavam aflitas e o esforço considerável das professoras para<br />
reconduzir o processo educativo diante de tamanha catástrofe. Quanto às famílias, estas<br />
também foram convidadas a substituírem os hotéis onde estavam alocadas por casas, alugadas<br />
pela empresa Samarco, em distintos bairros da cidade. Desta forma, a vida dos ex-moradores<br />
dos distritos vão assumindo novas rotinas onde a luta pela reconstrução dos distritos se faz<br />
forçosamente presente e as incertezas quanto ao futuro são acentuadas. No dia 4 de Fevereiro<br />
de 2016, assistimos em jornal televisivo - tanto local como nacional - Jornal Nacional da Emissora<br />
de Televisão Globo - a força dos moradores (entre estes uma professora do distrito de Paracatu<br />
de Baixo) em protesto relativo à transferência do caso para a justiça federal, em Brasília.<br />
A partir dos dados apresentados neste trabalho, podemos apontar que embora as vozes das<br />
crianças não ocupem um lugar de destaque nas matérias analisadas, emergem em algumas<br />
reportagens, ainda que de maneira tímida. Nessas matérias, elas abordam os efeitos da<br />
catástrofe no cotidiano de suas vidas, sobretudo pelo sentimento de perda que esse fato faz<br />
emergir. Essas matérias ainda estão distantes de expressar um protagonismo infantil, como<br />
assinala Buitoni (2013), mas permitem que o leitor se aproxime, pelo menos um pouco, das<br />
questões por elas destacadas.<br />
Referências<br />
Barthes, R. (1992). A aula. São Paulo: Editora Cultrix.<br />
Buitoni, D. H. S (2013). Crianças na mídia impressa brasileira: fotojornalismo ou ícone ilustrativo.<br />
In: Kunsch, D. A. & Persichetti, S. (orgs). Comunicação: entretenimento e imagem (pp.<br />
205-230). São Paulo: Plêiade.<br />
Damasceno, R. & Paaranaíba, G. (2015). Lágrimas de quem vê um rio morrer. Estado de Minas.<br />
Belo Horizonte, p. 13, 11 nov.<br />
Foucault, M. (1996). A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola.<br />
Gonçalves, J. C. & Marchesini, V. & Valencio, N. (2009). Colapso de barragens: aspectos sóciopolíticos<br />
da ineficiência da gestão dos desastres no Brasil. In: Valencio, N. & Siena, M. &<br />
Marchesini, V. & Gonçalves, J. C. (orgs). Sociologia dos Desastres- Construção,<br />
Interfaces e Perspectivas no Brasil (pp. 160-175). São Carlos: RiMa Editora.<br />
Higidio, A. (2016). Todos na escola, menos dois. Lampião, Jornal-laboratório, Jornalismo UFOP,<br />
Mariana, p.11, jan.<br />
Kiefer, S. (2015). Três gerações traumatizadas pela lama. Estado de Minas. Belo Horizonte, p.15,<br />
27 nov.<br />
Laurindo, E. B. & Formentin, C. N (2011). Crianças e telejornalismo: como a infância está<br />
representada no Jornal Nacional. Poiésis, v. 4, n.º 8, 456-472.<br />
Lobato, H. (2015). ‘O Uatu está morto’. Estado de Minas. Belo Horizonte, p.16, 24 nov.<br />
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