livro_atas
livro_atas
livro_atas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
geralmente a família nuclear burguesa, os profissionais acabam, muitas vezes, rotulando as<br />
famílias que fogem deste padrão, chamando-as de “desestruturadas”. O fracasso escolar acaba<br />
sendo justificado pelas condições financeiras e desestrutura da família, bem como o baixo grau<br />
de escolaridade dos pais e a falta de acompanhamento destes na aprendizagem dos filhos. Tal<br />
pensamento se mostra preocupante, visto que acaba por criar uma ideia de que não há como<br />
haver mudanças positivas na escola, já que a causa dos problemas é estruturalmente profunda<br />
e fora do alcance do poder da instituição. Além deste ponto, a fé nesta crença acaba por estagnar<br />
a reflexão acerca das ações da própria escola. Notemos que o papel da escola como<br />
modificadora do meio onde ela está inserida é esquecido e seu papel transformador das<br />
desigualdades sociais é diminuído.<br />
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), no Brasil, no Capitulo II, em seu Artigo<br />
22.º relata que a “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurarlhe<br />
a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para<br />
progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Percebemos a ênfase na cidadania, na<br />
importância da formação de sujeitos conscientes de seus direitos e deveres perante a sociedade.<br />
Diante das grandes desigualdades existentes no território brasileiro, que marca<br />
significativamente a trajetória de milhares de crianças e jovens de diversas regiões, trazendo a<br />
eles, desafios e empecilhos no progresso de seus estudos, observamos que a escola possui um<br />
papel importantíssimo não apenas em facilitar o acesso a uma educação de qualidade, como<br />
também na permanência destes sujeitos nas instituições.<br />
A escola deve ser parte ativa de um processo de mudança das realidades marcadas<br />
pelas grandes desigualdades sociais e económicas. Pensando desta forma a escola como um<br />
aparelho transformador e reprodutor da realidade, acrescenta-se a importância de se pensar no<br />
contexto onde cada instituição está inserida, quais suas dificuldades e pontos positivos, assim<br />
como, quem são as pessoas envolvidas no processo educativo mais amplo, quem são seus<br />
educandos e suas famílias.<br />
Acreditamos assim que não podemos ignorar o contexto social dos educandos e de suas<br />
famílias nas ações desenvolvidas nas escolas. Para a superação das dificuldades de<br />
aprendizagem dos educandos é importante uma integração entre as instituições e as famílias,<br />
que vá além de discursos baseados em elencar pontos negativos e culpabilizar todos os outros<br />
que estão envolvidos no processo educativo.<br />
Esta produção textual tem o objetivo de discutir sobre as relações estabelecidas entre a<br />
família e a instituição de educação infantil, refletindo acerca da inserção da comunidade no meio<br />
escolar. A partir da Teoria Sócio-Histórica, considerando a brincadeira como atividade principal<br />
da criança, propomos repensar o espaço do brincar na escola e como a família pode estar<br />
inserida neste contexto. Trata-se de trabalho oriundo de um estudo de doutorado em Psicologia,<br />
ainda em andamento na Universidade Estadual Paulista - UNESP/Assis, Brasil, realizado com<br />
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com estágio de<br />
Pós-Graduação na Universidade de Aveiro - Portugal, também com apoio da FAPESP 44 .<br />
Brasil e Portugal: políticas e contextos<br />
Como a nossa pesquisa está alicerçada nas realidades de dois países, cabe a nós tecer<br />
algumas considerações acerca dos processos históricos que perpassam a educação infantil<br />
nestas duas realidades. Brasil e Portugal são marcados por processos de migrações, visto que<br />
Brasil foi colônia de Portugal por séculos. Estas migrações que ao longo dos tempos tanto foram<br />
de portugueses, como de brasileiros, marcaram culturalmente as duas realidades, aproximando<br />
modos e formas de vida. Observando o contexto histórico em que a educação infantil surge e se<br />
desenvolve no Brasil e em Portugal, podemos dizer que em ambos países, esta etapa da<br />
educação está relacionada originalmente ao papel da família na educação de crianças muito<br />
pequenas, principalmente da mãe, bem como a necessidade materna de trabalho com o advento<br />
da industrialização.<br />
Tecendo uma discussão acerca da origem da educação infantil em Portugal,<br />
Vasconcelos (2000), diz que no início do século XX, a situação educacional em Portugal era<br />
delicada, consta que cerca de 75% da população neste período era analfabeta. Foi no início da<br />
44<br />
“As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de<br />
responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da FAPESP”.<br />
300