23.01.2017 Views

livro_atas

livro_atas

livro_atas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Introdução<br />

O Brasil é um país marcado pela diversidade e pelas disparidades regionais, étnicas, culturais e<br />

socioeconómicas, sendo a experiência de ser criança e adolescente múltipla e distinta,<br />

condicionada pela situação socioeconómica, o género, a escola que frequenta, a região, cidade<br />

ou zona onde se vive e a forma como tal criança participa ou não da vida familiar, escolar e<br />

comunitária (Ozella e Aguiar, 2008).<br />

De acordo com a UNICEF (2011), entre as vulnerabilidades presentes na sociedade brasileira<br />

que afetam de maneira grave as crianças estão: a pobreza, a baixa taxa de escolarização, o<br />

trabalho infantil, a privação da convivência familiar e social, a violência que resulta em<br />

homicídios, a gravidez na adolescência, as doenças, a exploração sexual e o uso de drogas. A<br />

pobreza potencializa outras vulnerabilidades, como a exposição a ambientes de risco, a doenças<br />

e má alimentação, perpetuando a cadeia de violação de direitos e exclusão social ainda na<br />

infância. Um de cada três adolescentes brasileiros pertence ao quintil mais pobre da população<br />

(os 20% mais pobres do país) e 31% deles vivem na região nordeste do país, onde o índice de<br />

extrema pobreza entre população adolescente é quase o dobro da média nacional, chegando a<br />

32% (IBGE/Pnad, 2009).<br />

As crianças são mais vulneráveis às condições adversas que os adultos. O desenvolvimento<br />

infantil vê-se afetado por múltiplos fatores, tais como: condição laboral e educacional dos pais,<br />

pertencer a grupos minoritários, a famílias pobres, numerosas ou monoparentais, etc. (Sameroff,<br />

1998). Igualmente a qualidade do ambiente físico e social em que crescem as crianças, afeta<br />

diretamente o seu desenvolvimento, aprendizagem, competência social e comportamento (Assis,<br />

Avanci e Oliveira, 2009).<br />

Em 2012 o relatório da UNICEF enfatizou a problemática das crianças num mundo cada vez<br />

mais urbano, pondo à mostra a situação de sobrevivência, falta de acesso aos serviços básicos<br />

(moradia, saúde, educação, etc.) e de proteção social daqueles que vivem em comunidades<br />

urbanas pobres e excluídas de direitos; muitas vezes, em condições similares ou piores que as<br />

crianças pobres das zonas rurais. Um em cada três residentes das cidades vive em condições<br />

marginalizadas, sem segurança, em lugares superpovoados e anti-higiénicos, caraterizados pelo<br />

desemprego, poluição, tráfico, delinquência, alto custo de vida, baixa cobertura de serviços e<br />

competição por recursos (UNICEF, 2012). Nas cidades, soma-se a estas problemáticas, a<br />

ausência de contacto direto com espaços públicos naturais (zonas verdes e ao ar livre) o que<br />

provoca nas crianças uma redução da criatividade, da curiosidade e do envolvimento em<br />

relações sociais, produzindo isolamento, stresse, cansaço e fadiga (Corraliza, 2011).<br />

Num cenário marcado pelas desigualdades entre os grupos populacionais e, consequentemente,<br />

por iniquidades na saúde, surge o conceito de determinantes sociais da saúde (CDSS-OMS,<br />

2010). Estes são caraterizados por circunstâncias económicas, sociais, culturais e políticas em<br />

que vivem e se desenvolvem as pessoas e que podem estar presentes mesmo antes do<br />

nascimento, como é o caso do baixo extrato socioeconómico familiar e do precário nível de<br />

escolarização dos pais, fatores que influenciam negativamente na saúde infantil (Whitehead,<br />

2000; Buss e Pellegrini Filho, 2007). Definida pela Organização Mundial de Saúde como bemestar<br />

físico, psicológico e social - no qual influem fatores pessoais, grupais, sociais e culturais<br />

em que vive imerso o indivíduo e a coletividade - a saúde deve ser compreendida como um<br />

processo no qual o ser humano é capaz de desenvolver as suas potencialidades e capacidades,<br />

buscando a sua autorealização como entidade pessoal e social (Rodríguez-Marín, 2001).<br />

O bem-estar psicológico ou subjetivo é definido como sendo as percepções e avaliações do<br />

indivíduo sobre a sua própria vida de acordo com aspirações, expectativas, valores culturais,<br />

experiências prévias, comparações sociais, etc., incluindo apreciações da sua vida em geral, o<br />

que se denomina “satisfação vital” e considerando todos os âmbitos que a compõem num<br />

determinado momento. No bem-estar subjetivo infantil, o modelo multidimensional de satisfação<br />

da vida inclui âmbitos que influenciam na qualidade de vida das crianças, tais como: bem-estar<br />

material, casa e família, educação (escola), relações interpessoais (amigos, vizinhos, colegas),<br />

ambiente (bairro ou comunidade), saúde, lazer (uso do tempo livre), participação cidadã e<br />

segurança (Casas e Bello, 2012).<br />

Na perceção subjetiva do bem-estar e da satisfação com a vida influem tanto aspetos internos<br />

ou psicológicos (nas suas dimensões afetiva e cognitiva), como as interações externas ou<br />

psicossociais com as outras pessoas e com o ambiente (Casas e Bello, 2012). O bem-estar<br />

subjetivo engloba ainda dimensões como satisfação global com a vida, felicidade e sentimento<br />

de pertença (Elvas e Moniz, 2010).<br />

O sentimento de comunidade é definido como o sentimento de pertencer a uma coletividade<br />

maior, de ser parte de uma rede de relações de apoio mútuo, disponível e confiável, incluindo<br />

235

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!