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privatizando o espaço público e impedindo a sua apropriação através do corpo em jogo e em<br />

movimento (Tonucci, 2005). Deste modo, o bem-estar, saúde e desenvolvimento da criança, bem<br />

como o usufruto da urbe enquanto espaço primordial de participação, jogo, lazer, e de atividade<br />

física, social e emocional encontra-se seriamente comprometido.<br />

Neste seguimento, consideramos ser socialmente relevante efetuar estudos sobre a<br />

mobilidade e interações da criança no espaço urbano, como forma de auscultar uma parte<br />

significativa da infância vivida no meio urbano, de modo a recolhermos informações e<br />

conhecimentos que possam vir a ser usados para, efetivamente, melhorar a experiência de ser<br />

criança em cidade.<br />

Outro contributo importante para o referencial teórico deste estudo é o trazido por<br />

Proshansky, Fabian, & Kaminoff (1983) ao referirem-se aos significados de lugares enquanto<br />

resultado de relações multidimensionais do foro funcional, cognitivo, simbólico e emocional. Assim,<br />

as “affordances” no ambiente não são apenas convites à ação funcional sob elementos sociofísicos<br />

mas também de ordem social, cultural e emocional, tal como é proposto por Kyttä (2004). Neste<br />

estudo, esta investigadora propõe um modelo hipotético para a definição de ambientes amigos da<br />

criança, em função de uma relação entre o número de affordances realizadas pelas crianças e a<br />

sua independência de mobilidade. Para o propósito deste estudo, a “affordance” é entendida<br />

enquanto processo transacional de experiência emocional de lugar; e a mobilidade das crianças na<br />

cidade como modo de acesso (tipo de deslocação e de acompanhamento) aos espaços sociofísicos<br />

nos quais as affordances emocionais se realizam. Christensen & Mikkelsen (2013) sintetizam bem<br />

esta ideia ao argumentarem que as crianças perseguem ativamente e criam lugares significativos<br />

através de processos sociais, materiais e simbólicos, decorrentes do movimento pelos lugares e das<br />

relações transacionais aí estabelecidas.<br />

Para a realização deste estudo foi adotada uma metodologia geo-participativa amiga da<br />

criança denominada de SoftGISchildren, a qual possibilitou a criação de um questionário-mapaonline-designado<br />

por “Cidade Ideal: Um jogo de imaginação gráfica!”. A metodologia<br />

SoftGISchildren insere-se num quadro teórico e conceptual mais abrangente denominado Public<br />

Participation Geographic Information Systems (PPGIS) integrado sobretudo no âmbito dos<br />

processos de planeamento urbano. De acordo com Tulloch (2008), PPGIS é um campo dentro da<br />

ciência de informação geográfica centrado nas diferentes formas adoptadas pelas pessoas no uso<br />

de diversas tecnologias geo-espaciais; o que lhes possibilita participar em processos públicos de<br />

planeamento, tais como, mapeamento e tomada de decisão. Brown & Kyttä (2014) relacionam o<br />

PPGIS com o conceito de “affordance” referindo-se ao primeiro como processo de mapeamento<br />

participativo, teoricamente e conceptualmente enquadrado na abordagem transacional das relações<br />

pessoa-ambiente. Esta abordagem transacional é materializada pelas “affordances”, as quais<br />

atribuem significado e valor para lugares específicos.<br />

A metodologia SoftGIS com base de internet foi inicialmente desenvolvida na Finlândia, na<br />

Aalto University, em 2005. Surge da combinação dos dados “Soft” associada à informação subjetiva<br />

dos residentes locais relativamente às suas experiências de lugares (Rantanen & Kahila, 2009), com<br />

a informação objetiva “hard” de dados do tipo GIS sobre a estrutura urbana (ex.: densidade urbana,<br />

percentagem de espaço verde; percentagem de crianças por buffer residencial), obtidos a partir dos<br />

sistemas de informação geográfica (Kyttä, 2011).<br />

A metodologia SoftGISchildren foi criada a partir da definição de ambientes amigos das<br />

crianças em torno dos aspetos da mobilidade e do jogo no ambiente físico. De acordo com vários<br />

autores, lugares amigos das crianças possibilitam independência de mobilidade territorial e<br />

oportunidades diversificadas de exploração e de jogo, por meio da perceção e realização de<br />

affordances, no envolvimento (Kahila & Kyttä, 2010; Kyttä, 2004; Moore, 1986). Um estudo pioneiro<br />

desenvolvido por Kyttä et al. (2012) usou a metodologia SoftGISchildren visando estudar a relação<br />

entre as experiências ambientais de 1837 crianças (10-15 anos de idade) em Turku (Finlândia), os<br />

seus padrões de mobilidade, as características urbanas da sua área residencial e elementos<br />

relativos à saúde e bem-estar. Nesta investigação, os participantes assinalaram, por meio de um<br />

mapionário (um questionário-mapa online), as suas experiências de lugar significativas de acordo<br />

com affordances pré-estabelecidas; e responderam a questões sobre a mobilidade a esses lugares<br />

e a outras relacionadas com saúde e bem-estar.<br />

Na presente investigação, e tendo como inspiração o trabalho mencionado anteriormente<br />

desenvolvido com a metodologia SoftGISchildren, foi criado um dispositivo metodológico<br />

diferenciado para estudar as experiências subjetivas significativas de índole emocional das crianças,<br />

no espaço físico da cidade. O carácter inovador do dispositivo metodológico construído reside no<br />

facto de ser composto por três instrumentos de recolha de dados, o SoftGISchildren mapionário<br />

(Cidade Ideal: Um jogo de imaginação gráfica!), a classificação de affordances emocionais, e a<br />

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