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Para ampliar o universo da brincadeira na infância, a presença da natureza nas cidades<br />

deve ser preservada. Assim também se precisa de práticas e políticas que fortaleçam a cidadania e<br />

a autonomia das novas gerações. Quando se observam comportamentos da criança cidadã no<br />

espaço público e a sua presença é frequente podem-se falar de diagnósticos de participação de<br />

altos níveis e começam a ser possíveis as leituras da cidade como amiga das suas crianças.<br />

A aproximação e abertura das administrações públicas municipais à participação das<br />

crianças, com compromisso a restituir diferentes formas do espaço coletivo de vida da infância e<br />

também dos adultos, como aliados da criança, são processos que necessitam de constantes<br />

atualizações e restruturações. O espaço coletivo, público, permite o fortalecimento das cidades<br />

como espaços de convivência entre adultos e crianças, sobretudo entre crianças e elas com os seus<br />

contextos, com a sua imaginação, a sua criatividade e a sua capacidade de sociabilização, capaz<br />

de interiorizar e desenvolver as suas próprias perceções da paisagem envolvente.<br />

À medida que a cidade fortalece o seu papel como garantia do bem-estar, também o papel<br />

da criança cidadã cresce. Quando a cidade lhe oferece espaços de brincadeira, maior mobilidade e<br />

autonomia dentro dos territórios urbanos, a criança pode exercer o seu papel como ser humano<br />

social, cultural e político a partir da visão do mundo que lhe envolve, seja ele urbano ou rural.<br />

Evitar ou reduzir o papel da cidade apenas a um valor de mercado deve ser a procura de<br />

uma cidade amiga das crianças. A publicidade e as grandes superfícies desviam e dissolvem o valor<br />

da cidade como espaço público ao invés de estimular o direito à cidadania e à identidade. Quando<br />

a cidade se destaca como lugar de democracia, de equidade social e de sociabilidade, como<br />

território de felicidade para as crianças, os idosos e as pessoas com mobilidade condicionada,<br />

transforma-se numa fonte de referência a seguir, em especial, em termos de mobilidade (Pais,<br />

2010).<br />

Os espaços públicos associados à natureza e à cultura, como são as margens dos rios,<br />

lagos, parques, jardins, praças e passeios públicos, representam valores coletivos de identidade e<br />

cidadania. São lugares que proporcionam oportunidades, momentos e motivos de encontro entre<br />

as diferentes gerações e classes sociais tanto no que diz respeito ao quotidiano, como durante os<br />

fins-de-semana, assim como nos momentos especiais por ocasião de eventos e comemorações<br />

folclóricas, históricas e políticas.<br />

A voz ativa e o pensamento analítico das crianças, envolvidas no dia-a-dia das cidades,<br />

possibilita-lhes assumir a sua cidadania local, como também adquirir uma compreensão global sobre<br />

significados históricos, sociais, ambientais, educativos e lúdicos dos lugares.<br />

Uma cidade do tamanho da criança é uma cidade que respeita a criança, uma cidade amiga<br />

da criança, uma cidade com políticas públicas urbanas que estão dirigidas à infância, uma cidade<br />

onde toda a sociedade é convidada a cuidar da criança como parte da sua família.<br />

Inicia-se ao convidá-las a participar e pensar sobre possíveis pequenas transformações em<br />

torno das escolas, áreas verdes, cruzes de ruas, passos dos peões, acesso a praças e pequenos e<br />

grandes parques.<br />

Numa proposta urbana e ambiental que defende as crianças estimula-se a criação de redes<br />

de espaços que oferecem e propiciam a autonomia, a conquista de novos lugares de interesse para<br />

as crianças, lugares onde elas se possam sentirem parte da cidade, das suas dinâmicas diárias, ao<br />

ir e vir à escola. A cidade que respeita a criança propícia a transformação do medo e do perigo numa<br />

oportunidade para construir em troca uma cidade confiante, formadora de identidade e ludicidade.<br />

A maior parte do tempo da criança está associada à escola. Infelizmente, essa escola temse<br />

transformado em tempo integral da infância e, por sua vez, tem transformado a criança em aluno.<br />

Neste contexto, com frequência, observa-se que as crianças não são respeitadas como crianças,<br />

como seres plenos que necessitam de tempo e de espaço para exercer a sua condição de crianças<br />

marcada pela imaginação, a curiosidade, a fantasia e a ludicidade.<br />

Os sistemas educativos fortemente vigiados e programados pelo adulto têm confinada a<br />

infância praticamente a momentos e espaços institucionalizados onde é pouco ou quase nada<br />

ouvida como uma cidadã com ideias, opiniões e propostas que lhes dizem respeito, embora exista<br />

a Convenção dos Direitos das Crianças como um instrumento jurídico que promove os seus direitos.<br />

A noção de ser criança de viver a infância sem que necessariamente tenha que ser ligada<br />

a contínuas atividades educativas dirigidas, entristece uma geração de crianças. A sociedade de<br />

consumo tem induzido a criança a transformar-se num consumidor de brinquedos, de produtos<br />

alimentícios associados a marcas mundiais e a produtos de moda. A publicidade dirigida à infância<br />

estimula o consumo, cria necessidades e divulga exemplos de violência.<br />

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