livro_atas
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este recorte foi necessário visto que a intenção de investigar a criança no espaço público em<br />
seus deslocamentos autônomos e independentes exigia que o grupo de estudo tivesse o mínimo<br />
de contato com esse espaço. Assim, ao delimitar tal recorte optamos por trabalhar com crianças<br />
de uma faixa etária específica, dentro de um enquadramento socioeconômico familiar que<br />
favorecesse esse nível de independência. O levantamento empírico foi realizado em três etapas<br />
diferentes. Como ponto de partida foram realizadas oficinas em 3 escolas localizadas na região<br />
central. Essas oficinas tiveram como principais objetivos a aproximação da pesquisadora com a<br />
infância moradora da região e a apresentação do tema de investigação às crianças. A segunda<br />
etapa consistiu na aplicação de um questionário na forma de entrevista individual e a terceira<br />
onde se realizou o “caminho acompanhado”, no qual as crianças entrevistadas foram<br />
acompanhadas pela pesquisadora em seus percursos escola-casa ou escola-projeto (social) e<br />
onde foi possível observar diretamente a relação das crianças com o espaço público. As duas<br />
últimas etapas contaram com a participação de 7 crianças, sendo 4 meninas e 3 meninos.<br />
Foram levantadas informações referentes ao contexto e à performance de cada criança no<br />
espaço público, sublinhando suas ações e percepções, as competências para execução dessas<br />
ações, os constrangimentos e os elementos desse contexto que contribuem nesse<br />
encadeamento de situações. Conhecemos as rotinas das crianças, os lugares de lazer, de<br />
desejo, de medo, os níveis de independência para estarem no espaço público e as ações que<br />
são tomadas de forma autônoma - seja em acordo com normas (familiares, institucionais,<br />
sociais), seja em transgressões. Além dos contextos (familiar, social, econômico, espacial),<br />
também conhecemos um pouco sobre a forma como se entendem enquanto sujeitos e um<br />
delineamento da construção do que é, para elas, ser criança e como se colocam diante de outras<br />
gerações. Nas entrevistas, especificamente, observamos o surgimento de um conjunto híbrido<br />
de representações em suas falas. As informações colhidas correspondiam, entre outras, às<br />
representações que as crianças elaboravam sobre o espaço público e do que é ser criança.<br />
Porém, entendemos que tais representações são resultado do atravessamento e das relações<br />
que estabelecem com tantas outras fontes de representações, as quais atuam de diferentes<br />
formas sobre o pensar e agir infantil. Essas representações podiam ser oriundas do seu próprio<br />
grupo de brinquedo (grupo e pares), dos adultos, da mídia, dos veículos de informação com os<br />
quais tem contato, isto é, do próprio espaço social no qual estão inseridas. Contudo, as<br />
representações dos responsáveis foram as que mais claramente podiam ser reconhecidas em<br />
suas falas, sobretudo quando as crianças relatavam os constrangimentos sofridos pelas<br />
restrições colocadas por seus pais ou cuidadores em relação ao seu estar no espaço público,<br />
em razão de sua (in)competência diante de determinada ação ou pelas deficiências desse<br />
espaço. Com a análise, percebemos também o quanto as representações do espaço (o<br />
concebido) e as representações sociais sobre a infância e sobre a cidade e seus espaços -<br />
sobretudo as que ditam sua produção - também aparecem como fatores de influência na prática<br />
espacial dessas crianças, interferindo e pautando tanto as representações dos adultos<br />
responsáveis, como as das próprias crianças, mesmo que indiretamente. Estas representações<br />
estavam presentes nas ações que são permitidas ou não (pelos responsáveis), possíveis ou não<br />
(devido a questão espacial e condição de segurança), desejadas ou não pelas crianças (por<br />
conta de uma experiência de cidade, tanto dela, quanto do adulto responsável, que reflete na<br />
formação deste desejo). Representações que pautam um determinado projeto de cidade que, se<br />
por um lado, ainda produz um espaço percebido pelas crianças como o lugar da possibilidade,<br />
do encontro, do lazer, da brincadeira mais livre, também é reconhecido, por outro, como um<br />
espaço sem lugar para ela e por vezes, perigoso.<br />
Com a sistematização dos dados, percebemos que poderíamos reunir o conjunto de<br />
representações que interferem na prática infantil e que aparecem como fatores na consolidação<br />
deste ou daquele estado de liberdade da seguinte forma:<br />
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