23.01.2017 Views

livro_atas

livro_atas

livro_atas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

na gestão dos conflitos e dos crimes práticados pelos súditos, em fins da era medieval -, mas ao<br />

contrário, essas interdições, essa prática de governo na emergência da modernidade pretendem<br />

gerir a população como espécie humana biológica, ou em nome da vida. Um biopoder cujas<br />

técnicas cruzam-se com as técnicas disciplinares para fazer viver e deixar morrer - uns e outros<br />

- como mecanismos de uma política de regulação da população (Foucault, 2008) 33 , da qual a<br />

população infantil é um subconjunto.<br />

Da mesma maneira que a tecnologia do poder disciplinar tem como objeto a sujeição<br />

do corpo do indivíduo, tornando-o dócil, manipulável, a tecnologia do biopoder é<br />

exercida sobre um corpo, mas não um corpo individual e sim coletivo. Esse novo corpo<br />

político, distinto do corpo individual e do corpo social, a um só tempo instituído por e<br />

objeto sobre o qual o biopoder se exerce, é a população. (Galo, 2009:45, em<br />

referência a Foucault, 2000).<br />

2. A infância sem lugar...<br />

Chamamos de infância sem lugar crianças e adolescentes que vivem em situação de exclusão<br />

absoluta, que embora estejam na sociedade não encontram lugar nela. São aquelas que além<br />

de excluídas são perseguidas e eliminadas pela polícia e o tráfico de drogas [quando credor].<br />

Por isso, precisam circular constantemente de um lugar para outro na cidade, dormir camufladas<br />

em bueiros, moitas e tomar banho em águas de esgotos. Crianças e adolescentes que já<br />

perderam seus vínculos com a família, com a escola e com as instituições de acolhimento<br />

destinadas a crianças em situação de risco. O conceito de infância sem lugar/exclusão absoluta<br />

sustenta-se nas experiências da pesquisa de campo em questão, a partir da qual foi possível<br />

observar níveis diferentes de exclusão, no conjunto da população de crianças/adolescentes em<br />

situação de rua, em Goiânia. Fenômeno que possibilitou-nos a definição do conceito de “crianças<br />

de rua ou moradoras nas ruas”, como um subnível de exclusão [absoluta], no conjunto de<br />

crianças/adolescentes excluídas/em situação de rua.<br />

A exclusão é pensada como o outro da inclusão, referindo-se “àqueles que, de alguma maneira,<br />

são discriminados pelo Estado e/ou pela sociedade,” (Veiga-Neto,2011:122). Ciente da<br />

complexidade deste conceito, não pretendemos esgotá-lo menos ainda estabelecer uma<br />

coerência semântica e discursiva analítica que o envolve. Queremos configurar o fenômeno em<br />

análise: a infância sem lugar. Citmaos Castel (2011), quando problematiza o conceito de<br />

exclusão e afirma que o excluído em grande medida é o desfiliado institucionalmente, sujeitos<br />

que no percurso das suas vidas sofreram diversas rupturas em relação a estados anteriores de<br />

menos exclusão, como é o caso das crianças/adolescentes que vagueiam sem lugar, por ter<br />

ascendido aos seus não lugares estabelecidos pelas matrizes normativas da modernidade.<br />

O fenômeno da infância sem lugar não foi aprendido pelos questionários de pesquisa,<br />

observamo-lo a partir das formas de resistência das crianças e adolescentes que chamamos de<br />

“moradoras de rua”, estudadas no contexto da pesquisa em análise que foi realizada em 75<br />

cidades brasileiras com 300 mil habitantes ou mais, sob a coordenação geral do Instituto de<br />

Pesquisa de Opinião Meta, em junho de 2010. Em Goiás a Pontifícia Universidade<br />

Católica/Instituto Dom Fernando (PUC/IDF) foi responsável por indicar os coordenadores de<br />

campo, os pesquisadores e fazer as articulações com o Sistema de Garantia de Direitos da<br />

criança e do adolescente, com o objetivo de selecionar pesquisadores que tivessem experiência<br />

com a abordagem de população de rua, em especial crianças e adolescentes.<br />

Metodologia do trabalho de campo: após várias reuniões e articulações com as instituições da<br />

área da infância, criamos em um ponto estratégico na cidade (CREAS 34 Centro Sul) uma base<br />

de onde saíam e retornavam, simultaneamente, as equipes de pesquisadores, em três horários<br />

33<br />

Ver – Foucault, M. 2008. Aula de 18 de Janeiro de 1978, Collège de France. In. Segurança, Território,<br />

População. São Paulo: Martins Fontes; e 1979. A governamentalidade. In. A microfisica do poder. Org. e<br />

Trad. Roberto Machada. Rio de Janeiro: Graal.<br />

34<br />

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).<br />

181

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!