23.01.2017 Views

livro_atas

livro_atas

livro_atas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Encontramos no brincar retratos da realidade vivida pela criança. Acreditamos que esta<br />

atividade, de maior frequência nas crianças de idade pré-escolar, pode ser veículo de<br />

aproximação entre a comunidade e a escola, atendendo a que as relações que a criança<br />

estabelece com as pessoas à sua volta se refletem na prática do brincar.<br />

Em um estudo acerca das perceções dos pais sobre a escola e dos professores sobre a<br />

educação, considerando as diferenças entre suas representações e vivências na relação escola<br />

e família, Ribeiro & Andrade (2006) falam de uma assimetria presente. “(...) as relações com as<br />

famílias baseia-se em dois clichés: nas prescrições quanto aos deveres dos pais e no discurso<br />

de famílias deficitárias, em que a ênfase é dada no que os pais não fazem” Ribeiro & Andrade,<br />

2006, p. 388).<br />

As autoras relatam que tais atitudes acabam por criar um processo de exclusão sutil,<br />

pois os pais que não conseguem gerir as expectativas da escola quanto às suas participações<br />

acabam tendo comportamentos de desistência e afastamento. “(...) a escola complementa,<br />

através da assunção de um papel social estereotipado, em que a hierarquização do saber é<br />

mantida, a postura submissa e não verdadeiramente participativa dos pais” (Ribeiro & Andrade,<br />

2006, p. 393). Observamos que, muitas vezes, a falta de diálogo e pensamentos erroneamente<br />

pré-concebidos, de ambas as partes, geram conflitos que acrescentados à falta de um contato<br />

maior que vá além de momentos pontuais e limitados, aumentam a tensão entre a relação família<br />

e escola.<br />

Na nossa pesquisa no Brasil, realizada em duas escolas localizadas no interior do<br />

Estado de São Paulo, observamos ações de participação dos pais pontuais e limitadas.<br />

Verificamos durante a observação participante, nos momentos em que nos foi permitido, que os<br />

pais se apresentavam na escola geralmente em dois períodos. O primeiro a ser observado foi<br />

em reuniões de pais, onde estes junto às professoras se informam sobre a avalização da<br />

aprendizagem de seus filhos. Neste momento, as professoras falam sobre o comportamento do<br />

aluno, o desempenho nas atividades de sala e de casa e os pais são questionados sobre os<br />

possíveis porquês de comportamentos que são encarados pela escola como problemas. Além<br />

de não contar com a presença de todos os pais, alguns alegando falta de tempo, e outros que<br />

são acusados pelas professoras como sendo por falta de interesse, os pais presentes nas<br />

reuniões parecem apenas assistir às avaliações que lhe são passadas e justificar os pontos<br />

negativos levantados. O outro período observado são as festas comemorativas organizadas pela<br />

escola. Os pais são convidados a assistir a apresentações de dança, teatro e outras atividades<br />

desempenhadas pelas crianças que são previamente treinadas por um adulto. Verificamos que<br />

em alguns desses momentos, as crianças brincam no espaço exterior, afastadas dos demais<br />

adultos que apenas observam as atividades. Notamos que neste momento, mais uma vez, os<br />

familiares ficam como espectadores de ações apenas planejadas pela escola.<br />

Considerações finais<br />

Em nossa pesquisa de campo no Brasil observamos ações pontuais, envolvendo os pais<br />

na escola. São exemplos destas ações as reuniões de pais e responsáveis para comunicações<br />

acerca do desempenho escolar das crianças e as festas comemorativas, onde os familiares<br />

comparecem como espectadores de atividades planejadas pela escola e desenvolvidas pelas<br />

crianças. Esperamos em nossa experiência de pesquisa em Portugal obter novos dados que nos<br />

faça repensar a relação família-escola, observando outra realidade e diferentes ações.<br />

A partir dos documentos oficiais brasileiros verificamos que a comunicação entre escola<br />

e família deve estar sempre presente, porém a participação vai além das ações observadas na<br />

realidade escolar pesquisada. Os pais e responsáveis podem ajudar a elaborar o Projeto Político<br />

Pedagógico da Escola - PPP 46 , fornecendo informações sobre suas realidades e necessidades.<br />

A participação das famílias precisa ir além de ações pontuais, frequentemente planejadas e<br />

implementadas apenas pelos profissionais da escola. A presença da comunidade e sua<br />

participação em atividades recreativas na escola pode fornecer novos conhecimentos e<br />

aprendizagens ao contexto, visto a diversidade existente entre as famílias.<br />

Acreditamos, assim, que a inclusão do brincar nas estratégias de aproximação e<br />

participação da comunidade na escola proporciona um ambiente frutífero de aprendizagens,<br />

compartilhamento de valores, um maior diálogo entre estes atores, além de valorizar o<br />

conhecimento e as ações desempenhadas pela comunidade. Os momentos de brincar na escola<br />

46<br />

O Projeto Político Pedagógico - PPP corresponde ao Projeto Pedagógico em Portugal.<br />

304

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!