livro_atas
livro_atas
livro_atas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A escolha de oficinas como forma de criação de espaços de brincar espontâneo,<br />
autônomo, criativo e cooperativo justifica-se pelas características deste dispositivo. Para Lopez<br />
(1999) as oficinas têm sido dispositivos frequentemente utilizados no campo da saúde mental e<br />
é geralmente convocado quando se fala em novas propostas de aproximação da clínica com o<br />
campo social, pois não segue uma fundamentação teórica rígida nem, tampouco, um modelo<br />
padrão de funcionamento. Seu uso tem sido frequente para designar um amplo espectro de<br />
experiências terapêuticas e extra terapêuticas de diferentes formatos e composições.<br />
Localizadas em um campo híbrido, móvel e instável, feito de experimentações múltiplas, o<br />
dispositivo oficina provoca uma nova cultura de intervenções que escapam do modelo<br />
terapêutico normatizador (GALLETTI, 2004). Para a autora, esses dispositivos coletivos de<br />
proteção que permitem a cada sujeito, de maneira singular, organizar-se, surgem em sua grande<br />
maioria de rupturas de couraças institucionais, nos momentos de alargamento do campo de<br />
intervenção.<br />
Assim, as oficinas lúdicas se estruturam como um espaço e tempo privilegiado para que<br />
as brincadeiras aconteçam. Isso não quer dizer, de forma alguma, que as oficinas sejam o lugar<br />
exclusivo da brincadeira, mas que constituem um formato espaço-tempo que pode fazer emergir<br />
um brincar compartilhado, criativo e autônomo para as crianças. Diferente das brincadeiras<br />
dirigidas, as oficinas lúdicas oferecem uma possibilidade de experiência criativa, incluindo o<br />
envolvimento do adulto na brincadeira.<br />
Na proposta de oficinas lúdicas, o espaço deve ser um elemento organizador das<br />
relações com a intenção de promover o exercício da cidadania, o desenvolvimento do senso<br />
coletivo, preservando as singularidades e subjetividades. Nesse sentido, o espaço das oficinas<br />
lúdicas passa a ser objeto de planejamento, uma vez que promove interações, convida ao uso<br />
dos diversos materiais oferecidos e cria uma atmosfera participativa (SEKKEL e GOZZI, 2005).<br />
Resultados e Discussão<br />
Em relação à dinâmica institucional observou-se que em um primeiro momento a<br />
dinâmica era voltada a cumprir os horários de cuidados da criança, como em toda casa:<br />
alimentação, higiene, horário para dormir, acordar, ir para a escola. Outro aspecto importante e<br />
que nos chamava a atenção era de que a casa era devassada pela entrada de voluntários que<br />
chegavam a qualquer momento e também iam embora intempestivamente. Isso alterava a rotina<br />
e deixava as monitoras receosas de ter ainda mais gente dentro da casa, gerando desconfiança<br />
e resistências às atividades do projeto e afetando a relação entre elas e os alunos extensionistas,<br />
inicialmente, permeada por desconfianças. Acostumadas com idas e vindas de voluntários,<br />
talvez acreditassem que os alunos não iriam permanecer por muito tempo. Além disso, a ação<br />
dos alunos era desqualificada pelas monitoras que afirmavam entre si que estes estavam ali<br />
“apenas para brincar”, como se esta atividade não fosse importante, demonstrando a dificuldade<br />
em se apropriar do sentido do projeto. Nesse início não abriam espaço para conversas ou trocas.<br />
Para os alunos ficava a sensação de se sentirem intrusos na casa.<br />
Em relação ao lugar que o brincar ocupava na instituição, as atividades rotineiras nos<br />
mostraram que este aparecia como atividade de entretenimento para as crianças menores.<br />
Nesse momento de atividade livre, as monitoras ofereciam os brinquedos, mas pouco<br />
participavam das brincadeiras. Sua função era apartar as brigas e cuidar para que não se<br />
machucassem. Frequentemente interrompiam as brincadeiras para retomar as atividades de<br />
alimentação, higiene e tarefas de casa. As monitoras pareciam acreditar que sua função se<br />
resumia em cuidar do espaço físico, dos brinquedos e da segurança das crianças. Retiravam-se<br />
da brincadeira e não percebiam a preciosidade da oportunidade do brincar compartilhado. Era<br />
comum que as crianças logo começassem a brigar, pegar o brinquedo umas das outras,<br />
mostrando a dificuldade em brincar junto. A atitude mais comum nesse momento era tirar as<br />
crianças de perto umas das outras, colocá-las de castigo ou proibi-las de brincar. Pouco se fazia<br />
em relação à mediação de conflitos e à possibilidade de trocas e diálogo.<br />
Em relação às crianças foi observado que cada uma, em sua singularidade, reagia de<br />
modo diferente aos alunos extensionistas. Uma das questões que apareceram muito fortemente<br />
era o hábito das crianças de nomearem a todos por tia ou tio, indistintamente, gerando uma<br />
220