livro_atas
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do ser, serão sempre parte de uma paisagem interior marcada pelos princípios e valores da pessoa<br />
cidadã.<br />
A paisagem não é somente um olhar apressado, uma vista panorâmica ou uma fotografia. É<br />
sobretudo uma parte significativa do território que cria ou não sentido de pertença e nele a criança<br />
posiciona-se como pessoa e constrói a sua cidadania. Nos espaços públicos onde a natureza se<br />
encontra incluída, as crianças demonstram sentir-se mais plenas e desejosas de brincar, correr,<br />
passear de bicicleta e partilhar com outras crianças. Quando sentem que a cidade lhes pertence,<br />
desde muito pequenas, construem a sua identidade com forte sentido de lugar.<br />
A afetividade e a paisagem<br />
As crianças pintam as suas paisagens de acordo as suas experiências sensoriais, imaginação<br />
e expressam assim as suas experiências. Essa sensibilidade nasce, cresce e desenvolve-se ao<br />
viverem, participarem e interagirem intimamente com os seus contextos. Deste modo, na medida<br />
em que as crianças conquistam e experimentam autonomia elas recebem a influência dos lugares<br />
onde convivem e, deste modo, sofrem influências sobre o seu corpo e sua mente (Montgomery,<br />
2013).<br />
As crianças falam dos seus sentimentos e de como a natureza envolvida na paisagem “entra<br />
e enche seu coração” (criança da Facha). O meio ambiente é decisivo para o desenvolvimento da<br />
criança. Quando ela conquista a sua autonomia e possibilidade de conviver e interagir com outras<br />
crianças e com a paisagem envolvente aprende a compreender, começa a decidir, descobrir,<br />
observar, conversar, brincar e intercambiar as suas experiências no espaço, na medida que modifica<br />
o seu mundo e a sua perspetiva (Oliveira, 2004).<br />
O sentimento de valorização por um lugar, com raiz na afetividade, foi denominado por Tuan<br />
(1980) de Topofilia. Para este autor, as pessoas de um mesmo lugar podem ter perceções<br />
diferentes. O lugar não é neutro e como tal produz interpretações e motivações diferentes nas<br />
pessoas segundo a sua idade, maturidade, nível educativo e cultural, capacidade de mobilidade e<br />
de interesses. Pode ser atraente ou não. Pode brindar a oportunidade de crescer ou de limitar as<br />
aprendizagens. As crianças, a partir do seu mundo, enriquecem e oferecem peculiaridades aos<br />
contextos, necessidades e interesses. Quando elas têm a oportunidade de explorar os seus<br />
contextos por meio do brincar livre, quando conhecem o seu ambiente experimentando-o, vivendoo<br />
e partilhando-o, dá-se a garantia de uma cidade com um futuro melhor, mais saudável e propícia<br />
para um desenvolvimento sustentável (Tonucci, 1997).<br />
A vivência das crianças junto aos espaços verdes, sobretudo em espaços onde podem correr,<br />
esconder-se, explorar os seus sentidos, estimula nelas o desenvolvimento de capacidades como a<br />
observação, a curiosidade, o desejo de aprender e a sensibilização pelo mundo natural.<br />
Tendo em conta que as crianças passam a maior parte do seu tempo, durante as horas de<br />
luz do dia, no interior de suas escolas a sua participação (Imagem 04) em projetos escolares que<br />
as incorporem e motivem é de extrema importância, especialmente aqueles que lhes permitam<br />
afiançar valores como a cooperação, o afeto e a solidariedade no caminho da construção do seu<br />
sentido de pertença.<br />
Imagem 04: As partilhas e debates com as crianças foram uma constante na construção<br />
do conhecimento e na vivência da participação.<br />
O lugar próprio onde o ser humano mora é construído através dos sentidos e relacionamentos<br />
afetivos. Essas dimensões são imersas de valores, sentimentos e simbolismos no momento em que<br />
experimenta o espaço através das suas perceções. Por meio das vivências com um lugar, palco das<br />
interações, se legitima o “eu” de cada um, mais quando estamos a falar das crianças. Desta forma,<br />
Tuan afirma que “o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar, à medida que<br />
o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (Tuan, 1980: 160).<br />
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