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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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culpa é tão caricatural quanto a famosa mãe judaica, mas, ela está associada à esta idéia,<br />

que neste caso o Adorno foi procurar nesta vertente cultural. Se não se está atento à<br />

possibilidade, sempre presente, do ato injusto, semea-se a possibilidade de que a justiça se<br />

propague. É uma espécie de compulsão ética, que não é a mesma coisa da punição. Estar<br />

atento para não ser injusto não é a mesma coisa de dizer: “Se não for esperto vou me<br />

estrepar”. Vou apanhar de qualquer jeito. Algum safado vai me penalizar, alguma lei idiota<br />

vai me multar O que é isto? É perpetuar o esquema de que a pessoa vai ser punida de<br />

qualquer jeito, da maneira mais irracional, sem qualquer fundamento, porque tudo está<br />

ligado a ser punido. É preciso ser atento para ser esperto e não atento para ser justo.<br />

Uma memória infantil não se torna objeto de reflexão necessariamente. Ela tem um<br />

fantasma. Como é que ela se transforma em objeto de preocupação intelectual?<br />

Ela tem um fantasma interno. É o que o Otávio Ianni chamava os seus demônios. Ela é<br />

metabolizada reflexivamente.<br />

Qual é o espaço deste metabolismo? Eu acho que é uma reflexão que está internalizada<br />

na tradição uspiana, ou seja, a idéia de que a sociedade brasileira é uma estrutura que<br />

leva ao arbítrio. O tempo todo este é o resultado. Há sempre um arbítrio que atravessa a<br />

sociedade e não há uma relação que seja fundada em Direito.<br />

Eu me dou conta agora de que não terá sido por acaso que nunca houve qualquer empenho<br />

meu em tentar transformar esta sombra, este fantasma, este demônio interno em um<br />

explícito tema de reflexão, porque eu preciso conviver com isto. É este bicho que é minha<br />

fonte de inquietação. Não posso liquidá-lo reflexivamente, porque se não ficarei sozinho<br />

sem esta sombra, esta lembrança mil vezes metabolizada. Se eu fizer, estou dando uma<br />

desculpa prévia, se o fizesse me daria mal. Mas, eu gostaria de tentar fazer, apesar de tudo.<br />

É tão estranho este mundinho que nós criamos. Eu o vejo o tempo todo nos debates. Por<br />

exemplo, existe uma espécie de constelação dos grandes núcleos temáticos da nossa cultura<br />

política que impressiona e a relação com os diversos termos é um desafio. Entre os<br />

componentes desta constelação temática um é, no meu entender, um traço constante no<br />

modo pelo qual se formulam e se realizam políticas neste país. Começa-se pelo último<br />

ponto, pelo fim. Pode olhar por aí. Mesmo agora que se propõe expandir e dar apoio<br />

diferenciado para estudantes egressos da escola pública (?). E o resto? E as pressões que<br />

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