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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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três aviões mostrassem a vulnerabilidade de um império, que desde os anos 70 faz guerra<br />

nas estrelas? Ninguém. Tem muito uma coisa inusitada na história. Pode-se pensar que o<br />

marxismo deu mostras de envelhecimento. Sim, mas o pensamento pós-moderno também<br />

deu mostra de envelhecimento para história. Então, o desafio é buscar quem consegue se<br />

rejuvenescer primeiro.<br />

Fale de suas pesquisas atuais.<br />

Tenho um projeto com o CNPq que começou em 92, quando eu pedi a bolsa. Até dois mil<br />

era um projeto individual com o qual escrevi os livros Adeus ao Trabalho e o Sentido do<br />

Trabalho, minha tese de livre docência. Depois converti esse projeto em pesquisa integral,<br />

que incorporou um grupo grande de meus alunos do mestrado, doutorado, graduação e pósdoutorado.<br />

É um trabalho coletivo, em que as pesquisas de cada um são inseridas nesse<br />

projeto mais geral. Esse ano, nós vamos publicar esse livro que de quase setecentas<br />

páginas. Acho que vai ser um marco da reflexão crítica sobre a rearticulação produtiva no<br />

Brasil, incluindo a fala do trabalhador. Eu faço sociologia do trabalho. Eu respeito quem<br />

faz sociologia de empresa, mas eu não faço sociologia de empresa. A Toyota não abre para<br />

meu grupo fazer pesquisa, mas nós fazemos pesquisa na Toyota, entende? A Honda não<br />

abre, mas nós fazemos pesquisa na Honda, A Volkswagen não abre, mas fazemos<br />

pesquisa. Por onde? Pelos sindicatos, pelos bairros, pelos desempregados. Hoje as empresas<br />

dificilmente se abrem para pesquisa. Elas desconfiam de uma análise crítica. Felizmente eu<br />

não dependo das empresas para sobreviver.<br />

Há lugar para um intelectual na sociedade atual<br />

E eu me lembrei de uma frase de Goethe que usei na minha tese de titular. “Se me<br />

perguntares: como é a gente daqui? Responder-te-ei, como em toda a parte: a espécie<br />

humana é de uma desoladora uniformidade. A sua maioria trabalha durante a maior parte<br />

do tempo para ganhar a vida. E se algumas horas tão preciosas lhe ficam, são de tal forma<br />

pesadas, que busca todos os meios para as repassar”.. Aí ele completa: Triste é o destino da<br />

humanidade, Claro, que aqui tem um pouco um romantismo, a tristeza goethiana. Acho<br />

que a atividade intelectual no mundo atual é uma das poucas atividades que contradiz,<br />

ainda que modestamente essa desoladora uniformidade. Porque de alguma forma nós temos<br />

tempo para pensar. O nosso tempo de vida não é totalmente controlado pelo tempo de<br />

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