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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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explicitasse inteiramente como, identidade nacional. Há um quarto tema: o dos Intelectuais.<br />

Quando apresentei o projeto à Bastide, a pesquisa preliminar foi feita a partir dos livros<br />

umbandistas, portanto, relatos de intelectuais. Daí a necessidade de se compreender como<br />

esses “mediadores simbólicos” tinham a capacidade de dar coerência e organicidade ao<br />

universo simbólico religioso. A temática do intelectual encontrava-se assim presente,<br />

embora não na perspectiva consagrada nas Ciências Sociais. Penso, por exemplo, nos<br />

escritos de Manhein. Minha perspectiva era outra, próxima à Weber, quando estuda o papel<br />

dos “especialistas” nas religiões. Foi esta dimensão que aproximou-me de um autor como<br />

Gramsci. Os intelectuais são peças decisivas na elaboração de um “discurso”, de uma<br />

interpretação do mundo. Esta é uma perspectiva sugestiva, e pode ser trabalhada, inclusive,<br />

no contexto da globalização.<br />

Neles quais seriam os pontos de divergência com outros autores brasileiros?<br />

Depende, do tema. O trabalho da Umbanda tem uma tese oposta à de Bastide. Ele a<br />

considerava como um prolongamento da memória coletiva africana, a presença da África<br />

no solo brasileiro. Para mim a Umbanda é uma síntese, o resultado do trabalho de um<br />

conjunto de forças sociais. Nela, vamos encontrar uma África retraduzida, apropriada pelo<br />

pensamento dos intelectuais de classes médias e populares numa tentativa de se forjar uma<br />

identidade própria, integrando a religião à sociedade de classes brasileira. No caso do<br />

trabalho sobre a Identidade Nacional, creio que a ruptura é maior. Não se trata apenas de<br />

uma tese, mas de como o objeto sociológico é construído. No final dos anos 70 início dos<br />

anos 80, a discussão sobre a identidade nacional mobilizava diversos autores. Neste debate<br />

várias posições surgiram. Havia os que seguiam os passos da tradição. Como Gilberto<br />

Freyre ou os isebianos, buscava-se por uma identidade própria ao homem brasileiro. Os<br />

críticos desta visão tradicional acreditavam, no entanto, na existência de uma autêntica<br />

identidade nacional, à esquerda. Eu tomei outra direção, propondo que a identidade é uma<br />

construção simbólica que se faz em relação à um referente. Não fazia sentido perguntar-se<br />

sobre sua autenticidade ou inautenticidade. O pertinente seria compreender: Como se<br />

constrói esta identidade nacional? Quem são os seus artífices? Como ela se transforma ao<br />

longo do tempo? Meu objetivo era escapar de uma visão essencialista que insistia na busca<br />

do “homem brasileiro”, como se numa sociedade complexa e moderna, pudesse existir tal<br />

entidade ontológica. Por isso há uma história da construção da identidade nacional, que se<br />

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