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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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colonização de novas terras passou a ser o meu tema. Na Europa, além de estudar teoria<br />

sociológica, viajei muito também, pois queria conhecer tudo. Cheguei em novembro de<br />

1982, em junho de 1983 estive em Moscou por 15 dias. Na Europa eu li toda a história do<br />

stalinismo e a literatura sobre o campesinato soviético, em francês. Visitei todos os países<br />

socialistas. Sempre nas férias, eu ia estudar inglês em Londres e na British Library, os<br />

livros que o Marx leu. O que me chocou muito na França foi o paroquialismo francês. Não<br />

se podia entrar com um livro de outro país porque era expulso do grupo. Viajei por toda a<br />

Europa, viajei por todos os países socialistas ao longo destes quatro anos. E o fato de ter<br />

este material, um objeto preciso e de estar em um laboratório de pesquisa, do CNRS,<br />

permitiu que eu fizesse a tese, no sentido em que tive uma dispersão relativa. Só que<br />

cheguei lá em um momento de crise do marxismo. Assisti também aos seminários do<br />

Godelier. O único livro marxista publicado com este nome foi o de Godelier, L’Idéel et le<br />

Réel , e um livro, que era muito popular do (?), chamado Sciences Humaines et Marxisme,<br />

que vendi no sebo. A diferença entre o estilo intelectual do meu trabalho de mestrado, feito<br />

dentro do marxismo heterodoxo da USP, via Sartre, via Lefebvre, o jovem Lukcas,<br />

Goldman, etc, e o clima de Paris na época era muito marcante. Em Paris não havia mais<br />

marxismo. Meu próprio orientador de tese que era um grande sociólogo rural marxista<br />

estava virando ecologista. Eu estava querendo discutir com ele os textos sobre a renda da<br />

terra, e ele dizia, não, isto aí não interessa mais. E realmente eu fiquei muito perturbado<br />

porque o marxismo não era mais explicador. Por outro lado, a opção que havia na França,<br />

era a de aderir a uma escola de pensamento e a um patron. Tinha o grupo do Bourdieu,<br />

onde se entrava e se aderia à sintaxe, à semântica, à lógica, ao vocabulário total. Ou era<br />

Touraine. A vantagem que eu tive foi que o meu orientador formal, eu vi duas vezes,<br />

quando cheguei e no dia da defesa da tese; e o meu orientador de fato, disse-me: você vai<br />

fazendo a sua tese. Eu falava com ele a cada quatro meses. Em um destes intervalos, passei<br />

seis meses no Brasil; dois meses em Brasília levantando material. Fui para a Amazônia,<br />

para o Sul. A minha tese de doutorado era algo que, na época, podia se chamar eclético, o<br />

que era muito depreciativo, eu diria que foi uma composição intelectual em função de um<br />

objeto.<br />

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