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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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dizer, a coisa estava se organizando pela diversidade do material. Eu gostei muito de fazer<br />

o trabalho. Quando eu descobri este filão, minha primeira idéia, eu queria fazer um trabalho<br />

sobre os retratistas do período... Mas, os trabalhos vão sendo feitos em resposta ao material<br />

que vai se impondo.O material impõe uma certa diretriz. Minha experiência é esta. Não sei<br />

se alguém começa com uma coisa pronta e impõe o material. Acho difícil, senão não se<br />

surpreende nunca com o material.<br />

Eu insisto um pouco neste tema, porque de certo modo você inaugura uma metodologia<br />

original na medida em que ela não é a repetição do Bourdieu. Com ela você pretende<br />

interpretar nossa situação porque nós não somos a França.<br />

Esta é uma pergunta maravilhosa. Eu vou respondê-la com o que aconteceu na minha<br />

defesa na França. A banca era o Pierre Ansard, ele era de Sociologia da Universidade Paris<br />

I, a Sorbonne. Bourdieu era obrigado a convidar gente de fora da École. O outro membro<br />

foi o Marrand, seu colega e muito íntimo da École Normale. Em suas memórias Bourdieu<br />

fala que na juventude os dois eram muito amigos e trocavam seus textos para leitura.<br />

Marrand que não conhecia nada de Brasil nem a América Latina – ele só trabalhou com os<br />

pintores franceses do século XVIII - fez a observação parecida com a suas, ou seja, ele<br />

queria que eu explicitasse o que o material brasileiro tinha forçado a definir o<br />

enquadramento. Ele me disse:”Você leu estas monografias, as memórias, fez o<br />

levantamento destas nomeações, fez os repertórios biográficos e teve sua formação teórica<br />

aqui; o que toda esta experiência te permite dar conta do caso brasileiro diferentemente do<br />

que você leu no Ringer, Gramsci etc.?“. Eu acho o seguinte: Ao analisar o material<br />

brasileiro, vi que ele não tinha nada a ver com a Europa. Eu via uma situação que não posso<br />

descrever como se estivesse descrevendo a Itália. Isto não tem nada a ver com a experiência<br />

francesa ou da Europa, nem da Argentina, como estou estudando hoje.. A vida intelectual<br />

no Brasil tem outros estribos, por isto é que a experiência do declínio social foi importante<br />

para dar uma viga mestra. Com ela eu conseguia enrodilhar muitos fios. Eu vi as<br />

encruzilhadas de trabalho intelectual destes intelectuais e fui percebendo como eles vão<br />

definindo projetos de vida intelectual comprometidos pela política. Como é que se<br />

explicam no Brasil, Machado, Lima Barreto, Cruz e Souza, sem a experiência do declínio,<br />

do clientelismo, do apadrinhamento? É impossível.<br />

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