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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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outras oportunidades. A Lourdes Sola montou uma coletânea sobre Economia e Política na<br />

Nova República, e eu fiz um artigo sobre porque não deu certo o Plano Cruzado. Aí<br />

começam as diferenças em relação à literatura.<br />

Você pode explicar melhor estas diferenças?<br />

A análise crítica vai se tornando menos sociológica, mais institucional. A análise política<br />

que se fazia aqui em São Paulo era uma análise de Sociologia Política. O trabalho de Ianni,<br />

Fernando Henrique, Florestan era sociologia política. Era uma análise da política, mas<br />

sempre estava informado por uma concepção sociológica. Houve, paulatinamente, na<br />

literatura, um descolamento em relação à sociedade. Além deste descolamento, desta<br />

“autonomização”, a Ciência Política que surge nos anos 70 e 80 focaliza os atores, a<br />

interação dos atores, os pactos, a gestação de consenso ou os dissensos entre os atores. E<br />

pensa sempre os atores como reproduzindo eventos políticos. Este meu texto que sai em<br />

1988, sobre o Cruzado já é uma crítica. Ele começa afirmando que a transição política<br />

antes de ser transição política é uma crise de Estado. Então, era uma recusa de pensar um<br />

regime político fora do Estado e o Estado fora da sociedade. Ou seja, o texto tenta explicar<br />

o fracasso do Plano Cruzado não sói por incompetência técnica, mas como fruto da crise do<br />

Estado. Era uma política gestada e conduzido por gente que imaginava que pilotava um<br />

Estado que não existia mais. Este Estado não era mais aquele do Geisel, como imaginavam<br />

nossos colegas da UNICAMP. Ele já estava totalmente destroçado pela crise que vinha lá<br />

de 1979 e sobretudo depois de 1982. O Estado está destroçado em sua capacidade de<br />

comando sobre a sociedade. Havia um descompasso entre a política e as estruturas que<br />

davam sustentação para aquela política.<br />

Você é pioneiro nessa análise, assim como o José Luiz Fiori, no Vôo da Coruja.<br />

O Fiori identifica a crise do Estado com o Geisel. Eu acho que não é que o Estado entra em<br />

crise com o Geisel, mas, aí o Estado desenvolvimentista tem seu último estertor. Depois<br />

ele explode como explode o Estado mexicano. Eu uso o conceito de Estado varguista ao<br />

invés de Estado desenvolvimentista como faz o Belluzzo em um texto muito interessante.<br />

Tivemos vários Estados desenvolvimentistas na América Latina. Hoje, conheço um pouco<br />

mais o caso mexicano, o argentino. Fora os asiáticos, temos modalidades diferentes de<br />

Estado desenvolvimentista. O que interessava salientar, neste artigo, não era só a relação<br />

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