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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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E você tinha ligação com o Partido Comunista?<br />

Não, ainda não. Era tudo inspiração pessoal, eu me punha em um mundo<br />

independentemente do que o mundo<br />

Como você decidiu entrar na Faculdade de Direito?<br />

Isto foi um parto. Eu não queria estudar Direito. Eu queria estudar Neo-Latinas. Eu queria<br />

estudar Letras, mas, depois de uma profunda deliberação, depois de um tumulto mortal eu<br />

deliberei que tinha de estudar Direito, porque Letras era uma profissão feminina, que não ia<br />

me dar nenhuma expectativa de afirmação viril no mundo. Mas, o meu gosto era Letras,<br />

inclusive o curso do Pedro II era muito bom, e tinha toda uma formação clássica, e eu era<br />

um homem de Letras desde garotinho. Eu lia muito, lia muito, o dia inteiro, a noite inteira.<br />

Eu vivia no mundo da Lua, de grandes personagens. E tinha uma relação de recusa do meu<br />

mundo imediato. Embora, jogasse futebol, fosse moleque de rua, mas, com o tempo foi se<br />

estabelecendo uma dissidência entre eles e eu, cuja marca mais forte pode ser dada pelo<br />

fato de que um deles percebeu, e me denunciou por eu falar muito difícil, e que aquilo seria<br />

como uma tentativa de me destacar. Mas, não era verdade. É que eu passava os dias lendo.<br />

Eu tinha um vocabulário mais desenvolvido. A minha turma era muito rústica, era só praia<br />

e futebol. Eu também era praia e futebol, mas, tinha aquela hora noturna que, em vez de<br />

dormir, eu ficava lendo. Era um mundo inteiramente fictício. Eu não entendia as coisas que<br />

eu via. Fiquei com um sistema de valor muito forte, muito robusto, e com uma baixíssima<br />

capacidade de interpretação. Dostoievski eu li quase todo, antes dos 17 anos. E lia sem<br />

parar, não conseguia parar. A vida era isto. Comecei com Direito e terminei o curso.<br />

E a decisão para Ciências Sociais?<br />

Veio depois. Eu terminei o curso e advoguei. Quando entrei no curso fui para o escritório<br />

de um colega de turma do meu pai. Comecei a trabalhar no escritório com 18, 19 anos,<br />

antes de me formar, de modo que quando me formei já estava exausto e tinha tido uma<br />

relação com a profissão que não tinha me encantado. Muito instrumental. Eu trabalhava<br />

com um grande advogado, que era um homem de métier e que achava que advocacia é<br />

talento. Eu vivia estudando. Mas, ele me ensinou uma porção de outras coisas, sobretudo<br />

me ensinou a viver. Ele me tratava regiamente. Tinha sido muito amigo do meu pai.<br />

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