18.04.2013 Views

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

diferentes. O registro da discussão política não é o mesmo que eu estava utilizando para<br />

compreender o processo de transformação da ordem mundial.<br />

Outra vez temos a questão: quem são os atores políticos?<br />

São vários: as transnacionais, as religiões universais, as nações, a ONU, o FMI, os<br />

movimentos islâmicos, fundamentalistas ou tradicionais, os grupos indígenas. Os grupos e<br />

os interesses (militares, mercantis, religiosos, étnicos) não desaparecem neste contexto, são<br />

redefinidos. No entanto, já não é mais possível confinar a política ao território do Estadonação.<br />

Quer dizer, aos atores tradicionais: partido, governo, sindicato. Mesmo levando-se<br />

em consideração as limitações atuais, a ausência de uma “sociedade civil mundial”, a<br />

fragilidade dos orgãos internacionais tipo ONU, não é suficiente pensá-la apenas segundo<br />

os parâmetros da modernidade nacional. É necessário considerá-la, também, do ponto de<br />

vista da mundialização. Isso vai ser feito? Não sei. Pode ser feito? Tampouco, sei. Porém,<br />

democracia, igualdade, cidadania, são princípios demasiados sérios para serem deixados<br />

apenas às contradições nacionais ou nas mãos dos grupos dominantes como FMI ou G-7.<br />

Como você vê a relação entre política e sociedade?<br />

Gosto de política, mas tenho uma insatisfação grande quando leio alguns cientistas<br />

políticos. Eles parecem se contentar com as explicações conjunturais. Eu me pergunto se<br />

realmente é possível pensarmos na existência de uma disciplina tão especializada, a ponto<br />

de construir sua teoria a partir de um único tipo de atividade humana. Confinar a política<br />

aos atores parece-me algo contraproducente. Talvez por isso as discussões sobre a cultura<br />

tenham “engolido” o tema da política, o que certamente, não é uma boa solução. Mas isso<br />

acontece porque a cultura abre um horizonte que os cientistas políticos têm dificuldade em<br />

tematizar e problematizar. Por isso há um certo retraimento da política...<br />

Retraimento no âmbito do diagnóstico, mas, não institucional? Se você pensar, a<br />

racional choice é dominante nos departamentos americanos, e tem sido dominante nos<br />

departamentos, de ciência política brasileiros...<br />

Mas, são dominantes apenas em alguns departamentos universitários. Felizmente a vida é<br />

mais complexa do que o rational choice. Eu me refiro ao retraimento da capacidade de se<br />

interpretar o mundo. Ela perdeu em encantamento, possui menos apelo. Não sei até que<br />

ponto a retração das interpretações está condicionada à retração da própria política, a<br />

260

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!