18.04.2013 Views

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

abandonar os estudos. Vivendo uma crise existencial e política fui para a França. Comprei<br />

uma passagem de terceira classe de navio, desci em Vigo, na Espanha, para chegar em Paris<br />

quase um mês depois de ter deixado o porto de Santos. O dinheiro era a sobra de um terço<br />

de um DKW que tinha herdado da minha mãe, com ele consegui o bilhete de ida, sem volta.<br />

A mala, uma máquina de escrever e um violão eram minha bagagem.<br />

Por que a França?<br />

Na época, cheguei a sondar outras alternativas. Os Estados Unidos estavam fora cogitação,<br />

pois havia na atmosfera estudantil uma forte recusa ao imperialismo americano. Cheguei a<br />

pensar na Inglaterra, porém, lá as condições para se cursar a faculdade eram difíceis, os<br />

estudos são pagos. Além de ter um pequeno contato com o idioma francês havia uma outra<br />

vantagem, os franceses reconheciam meu diploma da Escola Agrária como equivalente ao<br />

bacallauréat permitindo-me entrar diretamente na universidade.<br />

Você levantou estas informações, antes de ir?<br />

Sim. Fui para a França com o histórico escolar da Escola Politécnica e o diploma de<br />

Laticínios traduzidos. O documento da Poli foi importante, eu o apresentei em Vincennes,<br />

várias disciplinas, as de caráter mais matemático, foram reconhecidas como equivalentes.<br />

Isso fez com que eu terminasse o curso mais rápido.<br />

Porque essa mudança da Engenharia para as Ciências Sociais?<br />

Creio que devido ao clima dos anos 60 no qual política e cultura misturavam-se de maneira<br />

explosiva e utópica. A cidade de São Paulo teve um impacto muito grande sobre mim<br />

quebrando minhas raízes interioranas. Durante minha incursão fracassada na Politécnica, de<br />

maneira desordenada, eu me interessei pelas Ciências Sociais e pela Filosofia. Aos poucos<br />

fui me desviando da carreira de Engenharia.<br />

Suas leituras serviram para impactar?<br />

Na época, eu li bastante sobre marxismo, Hegel e Nietzsche. Em Paris, no curso de<br />

Sociologia, tive a oportunidade de ler de forma mais sistemática e organizada os autores<br />

clássicos. Sobre o Brasil, devido à meu itinerário, lia pouco, com exceção dos nomes<br />

consagrados fora do circuito específico das Ciências Sociais, como Sérgio Buarque de<br />

Holanda ou Caio Prado. Florestan Fernandes, alguma coisa, mas, pouca.<br />

240

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!