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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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apartheid. Esta desigualdade leva a um vazio de valores, na medida em que não é superada,<br />

nem sequer minorada, antes acentuada. Trata-se de uma sociedade em que convivem os<br />

muito ricos e os muito pobres, onde as pessoas estão expostas a todos os bens da chamada<br />

sociedade de consumo, e não têm acesso a isto, não têm acesso à educação e a outras<br />

condições de vida. Nada é reposto quando suas antigas formas de convivência foram<br />

destruídas; isto resulta em um vazio de valores. Então, pode-se matar alguém com requintes<br />

de violência e, em seguida, dizer “matei, não sinto nada em relação a isto”. É a barbárie<br />

social.<br />

Mas, isto não pode ser encontrado em outras sociedades, Estados Unidos, por exemplo, e<br />

conectado com o que se chama exclusão resultante da globalização?<br />

Mas, é muito diferente! É a globalização. Acho que ela é um processo de homogeneização<br />

do mundo sim, sob a égide do capital, não se pode esquecer disto, em que alguns usufruem<br />

a chamada globalização, sobretudo os Estados Unidos, que se enriqueceram. Eles<br />

estabeleceram uma relação predatória com o mundo. A África, por exemplo, não importa a<br />

eles. Nós somos lá bas, como dizem os franceses. Estamos lá longe e não interessa. Qual é<br />

a diferença da situação nos Estados Unidos? É uma diferença imensa! Lá, eles têm,<br />

primeiramente, os direitos garantidos; segundo, acesso a situações de vida mais decentes do<br />

que temos aqui. Por exemplo, o que ocorre com o menino da favela o que o Estado poderia<br />

pensar como política em relação a ele, eu sei que é difícil executar. O menino favelado não<br />

tem alternativa, porque, primeiro, a escola não responde às suas questões. Segundo, porque<br />

se ele estudar não tem emprego. Terceiro, não tem sentido aquilo que ele está fazendo.<br />

Então, se tivesse uma alternativa entre estudar em uma escola que o pudesse livrar do<br />

tráfico, talvez, escolhesse esta escola. Mas, não tem! É uma sociedade com uma grande<br />

injustiça social. No quadro desta imensa injustiça social, o pequeno favelado vê um menino<br />

da classe média com tênis de marca, ao qual ele não tem acesso. Ao mesmo tempo, ele não<br />

tem mais as referências valorativas que vinham de uma economia moral das camadas<br />

populares brasileiras, que foi destruída naquele processo avassalador de modernização. Em<br />

muito pouco tempo, nesse processo, ele vai para o tráfico e mata! É isto que eu quero dizer.<br />

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