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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Mas, acabei desistindo de estudar a revolução que não houve! Então, decidi estudar porque<br />

o liberalismo tinha tanta dificuldade para vingar aqui no Brasil. Na verdade, acho que fiz<br />

essa escolha porque o modelo liberal-democratico é o mais formalizado no livro clássico de<br />

Barrington Moore sobre as Origens da Ditadura e da Democracia. Eu poderia ter<br />

discutido porque a modernização que se processou sob Getúlio Vargas foi conservadora.<br />

Ou seja, poderia ter privilegiado a análise da “via de modernização pelo alto” nos termos de<br />

Moore, mas não fiz isto porque ela é muito menos formalizada na obra de Barrington<br />

Moore. Não é bem um modelo. O que há mais claramente no livro é um modelo de<br />

modernização liberal-burguesa. Então, peguei este modelo e comecei a ver como e porque<br />

suas condições não confluíram no caso do Brasil. Algumas delas estavam presentes, outras<br />

não. Para fazer isto, a estratégia que eu tinha era comparar. Fazer comparações macrohistóricas.<br />

Aliás, acho que é só isto que a gente pode fazer, o nosso laboratório possível é<br />

comparar. No caso, comparei o Brasil com duas experiências de modernização : a<br />

experiência americana liberal-democrática e a experiência alemã autoritária. A literatura<br />

americana trabalha a Guerra de Secessão como uma ruptura possível com o autoritarismo<br />

nos Estados Unidos. A Guerra de Secessão é que inaugura o Liberalismo. Usei esta idéia<br />

para comparar com a Abolição no Brasil, tentando mostrar como o processo político de<br />

abolição levou aqui a um tipo de arranjo político que preservou o monopólio de poder rural<br />

no Nordeste, e criou um mercado de trabalho segmentado. Assim, a idéia de trazer<br />

imigrantes da Itália impedia a formação do mercado de trabalho pleno. Subsidiando a<br />

imigração, o Estado criou um mercado de trabalho insulado, que retardou o fortalecimento,<br />

o poder de barganha da classe operária, e uma série de coisas. Trabalhei com dados muito<br />

precários, mas, muito sugestivos.. Usei diversos tipos de dados para mostrar como a<br />

formação do mercado de trabalho foi marcada pelo amplo uso de recursos de autoridade,<br />

pelo patrocínio estatal e não simplesmente pela lógica de agentes auto-interessados.<br />

Tratava-se, portanto, de um tipo de capitalismo de autoridade.<br />

Este é o tema que você retoma, mais recentemente, na discussão do livro Processos e<br />

Escolhas porque você vai falar nos três princípios de organização social: interesse,<br />

solidariedade e autoridade?<br />

Na verdade, a gente pensa que muda, mas, não muda tanto. Fica dando voltas.<br />

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